terça-feira, 28 de abril de 2020

É preciso estar atento e forte*

Tema: Cancelamento
Por Rafael Freitas


Eu tenho medo de ser cancelado. Não, não tenho milhões de seguidores, não sou digital influencer, não corro o risco de perder contratos milionários (por que choras, Pugliese?), mas tenho medo de falar alguma bobagem e um print arruinar minha vida.

PODE RIR, GENTE.

_ Nossa, mas que print se você nem posta nada?

Pois é por isso mesmo que não posto nada. Bom, pelo menos nada que possa causar discussões ou polêmicas. Discussões no sentido de brigas, no caso. Não gosto nem ao vivo e a cores, quem dirá nos comentários de alguma postagem nas redes sociais. Porque ver os comentários das pessoas em postagens alheias me causa indignação, depois tristeza.

É só a Preta Gil aparecer de biquíni ou a Vanessa Rosan optar por uma maquiagem mais leve na participante da vez do Esquadrão da Moda que tornam-se alvo de comentários ofensivos, xingamentos, ordens de "não use isso" ou "faça aquilo". Escolhi esses exemplos porque elas têm respostas rápidas, coerentes e confiantes para os desaforados de plantão.

Gente, tá feio. Muito feio. Todos podem ter suas opiniões, claro. Mas o que leva uma pessoa a emitir uma opinião negativa, muitas vezes de forma ofensiva, sem que tenha sido solicitada??? Não entendo.

_ Nossa, mas você não levanta nenhuma bandeira? Não apoia nenhuma causa?

Claro que sim! Sendo professor, não perco uma oportunidade de lutar contra preconceitos e o discurso de ódio. As áreas em que trabalho, Arte e Ensino Religioso, permitem boas discussões sobre a quebra de padrões de beleza, empatia, valorização e respeito à vida, relações de gênero, preconceitos relacionados à sexualidade e racismo. Gosto de pensar que, dessa forma, atuo de forma militante, sendo resistência e ensinando a serem resistência, retribuindo a todos que, antes mesmo que eu nascesse, levantaram suas bandeiras e lutaram por liberdade e igualdade.

Ah, mas então tá tudo certo se a influenciadora digital que preza por hábitos e alimentação saudáveis, vítima do COVID 19, der uma festa em casa, num ato de total irresponsabilidade em tempos de distanciamento social? Não, óbvio. E a drag queen famosa pode fazer comentários transfóbicos? Não também, óbvio. A incoerência grita! Ouçam!

Mas a cantora branca, que luta pelas minorias, ser acusada de apropriação cultural e cancelada por usar tranças, em um show que homenageava a cultura negra, não me parece errado. Serei cancelado por pensar assim?

São tempos difíceis. Tem muito discurso de ódio correndo solto por aí - lobo em pele de cordeiro. Mas, se por algum momento parecer difícil reconhecer os inimigos, lembre-se de que os amigos a gente já conhece bem: coerência, respeito e empatia.



* Trecho da canção Divino Maravilhoso, de Caetano Veloso e Gilberto Gil




8 comentários:

  1. Amei seu post, filhote, falou tudo que eu gostaria de dizer só que direi, erroneamente, de forma raivosa. Amei!!!

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    1. Acalme-se Rosana. (Sempre tenho medo da gente perder a razão quando fica brabo - mas é tão difícil não ficar né)

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  2. EU tenho achado esse trecho da música TÃO 2020

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  3. E fico muito feliz de saber que você tem essa oportunidade (e não a perde) de militar em sala de aula pra ajudar a construir mentes pensantes e coerentes pro futuro que nos aguarda

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  4. Sobre esses cancelamentos com os quais você não concorda: tô contigo. Meda.

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Sinta-se em casa. Sente-se conosco,tome um guaraná e comente o que você quiser e depois, aguente!!! hihihi