Tema: Acróstico
Por Rafael Freitas
Riscos. Era assim que minhas
avós e uma de minhas tias chamavam aqueles desenhos. Ramos e flores estampavam frágeis
folhas de papel de seda, que rasgavam-se nas dobras devido à ação do tempo ou ao
manuseio repetitivo.
A minha infância foi marcada
pelos riscos de bordado. Minha avó materna, Marta, morava em um sítio, onde eu
passava boa parte das minhas férias. Às vezes, ela me pedia que transferisse
para uma folha quadriculada bordados de ponto-cruz que, na revista, eram muito
pequenos para sua vista já cansada. Ela gostava de amores-prefeitos.
Fazia esses desenhos e
riscos com prazer. Até aprendi alguns pontos de bordado. Gostava de fazer
cartões com bordados de ponto-cruz na talagarça branca, emoldurados por papel
cartão colorido. Mas, imaginem! Um menino bordar não podia; era coisa de
mulher. Mas eu bordava. Até comprava revistas. Passei a colecionar riscos da
seção de bordados e artesanato das revistas de costura da minha mãe.
A avó paterna, Francisca, e minha
tia Margarida também bordavam. Tia Margarida, mais conhecida por Nilda, nascida
no dia da primavera, vejam bem, bordava panos de prato com ponto-cruz
"para fora". Muitas vezes ela conseguia alguns modelos de bordados e
pedia, para o meu primo ou para mim, copiarmos o esquema nas folhas
quadriculadas. Atenção na contagem dos "xizinhos" para não dar errado.
E aprendam: o avesso precisa ser perfeito.
E mais que os riscos com
lápis ou caneta Bic azul naqueles papéis amassados, essas mulheres eram
apaixonadas por flores de verdade! Em cima da mesa da cozinha, na casa da avó, ficavam
as violetas. Roxas e liláses. Em volta da casa toda, roseiras, orquídeas,
beijinhos, antúrios, bromélias, samambaias, avencas. E algumas lagartixas!
Linhas coloridas, agulhas,
riscos, folhas e flores se misturam e formam um quadro bonito e alegre na minha memória. Essas mulheres influenciaram meus gostos, minhas habilidades. Fazem parte do homem que eu sou: um homem que gosta de bordados, costuras e flores. E de tanto amor, qualquer dia vai florescer um
desses riscos aqui, como uma homenagem. Aqui, em um dos meus braços que bordam.
* Trecho da música Varanda Suspensa, da cantora Céu.
Que coisa mais linda desse mundo de meu Deus!!!!
ResponderExcluirAmei Rafa, tipo de texto que deixa o coração da gente aquecidinho. Parabéns!!! amei!!!
Meu Deus do céu! Que orgulho da família, das suas habilidades e desse quadro lindo que alegra sua memória.
ResponderExcluirPrevejo uma tatuagem.. é isso mesmo Brasil?!
ResponderExcluirE que delícia de história e de memórias. E nem as lembranças mais bonitas fogem desses estereótipos insuportáveis, né minha gente?
ResponderExcluirVamo mudá isso logo!