quinta-feira, 27 de abril de 2017

Quero ver quem me conta essa...

Tema: do que me contaram
Por: Rosana Tibúrcio
No tempo em que eu era bem crédula: meados dos anos 70
Eu me recordo bem de quando me contaram que o mundo ia acabar no ano 2000 e que os casamentos durariam para sempre. Que existia alma penada; Papai Noel, não. Que o sal fazia mal; o doce alegrava. Que o trabalho enobrecia; o ócio arruinava. Que quem conta um conto aumenta um ponto e quem conta um conto também omite. Que homem que é homem não chora e que mulher deve ter compostura. Que em casa as obrigações são das mulheres e que os homens “ajudam”. Que meu voto era válido; que a constituição deveria ser respeitada. Foram tantas e tantas coisas que me contaram ao longo da minha vida; algumas procedentes outras nem tanto e todas elas não me serviram muito. Mas até agora não apareceu ninguém para me contar que, se eu continuar procurando, dá pra ser só feliz. E fazer!


Uma linda quinta-feira pra todos vocês, minhas gentes, pois nas quintas há sempre algo diferente no ar e hoje há divagações sem fim; o que não é nenhuma novidade. 

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Tem tanta coisa

Tema: Do que me contaram
Por: Nina Reis




Tem muitas coisas boas
e outras nem tanto
 tem alguns desgostos
e também muito encanto

Tem grandes histórias
lembranças, recordações
tem tristezas, tem mágoas
e também tem ilusões

Tem algumas mentiras
muitos muitos segredos
alguns prefiro esquecer
tem os que remetem medos

Ouvidos bem atentos
coração bem preparado
sempre que me procuram
confiam de olhos fechados

Do que me contaram
tranquei a sete chaves
sou grata a todos
obrigada pela confiança



*Quem disse que o fim precisa rimar?

* pra quem chegou agora, entenda, quando tem rima, o final é sempre avacalhado. É isso!

terça-feira, 25 de abril de 2017

Quando falo coisas reais*

Tema: Do que me contaram
Por Rafael Freitas

Era um acampamento de oração para jovens e eu estava lá. Não consigo lembrar nomes e datas, mas a história daquele monge magrelo e engraçado, contada sob a tenda no sábado à tarde, é difícil de esquecer. E de guardar.

Era nas ruas que ele realizava sua "missão": atravessava a cidade para não ser reconhecido, trocava o hábito marrom e o cordão com os votos por jeans e camiseta e ia para as ruas, na noite, fazer companhia para marginalizados e marginalizadas, travestis e vítimas da AIDS. Uma conversa amiga, um conselho, uma orientação. Mas como os rostos iam ficando conhecidos, estabelecia-se uma relação, uma proximidade. Entre esses rostos havia uma travesti na fase terminal da doença.

Quando foi internada, esse monge lhe visitava no hospital, oferecendo ajuda, cuidado, ombros e ouvidos. Talvez para prová-lo, ela começou a pedir favores estranhos. Certo dia pediu uma revista pornográfica. Ele comprou e, chegando lá, ela pediu: _ Não enxergo, lê pra mim. Mas e o voto de castidade? - pensou o monge. Lembro da piada e do gesto feito enquanto narrava sua contação de história adulta.

Um outro pedido: um estojo de maquiagem. Ele também comprou e, chegando lá, ela pediu: _ Não consigo me maquiar sozinha, faz isso pra mim? E ele fez. Ela pediu o espelho, se olhou e disse: _ Nunca me senti tão bonita. E assim que se despediram, pois ela se foi dias depois.

Numa outra vez, o monge estava no cinema. Seu celular tocou e ele reconheceu o número de um dos rostos com que se relacionava. Atendeu à ligação e ao pedido de ajuda: _ Socorro, me leva pra casa da minha tia, vão me pegar! Deixou o filme pela metade.

Aquele rosto indicava um caminho afastado e, num certo  ponto da estrada, puxou um canivete e ordenou ao monge que parasse o carro e descesse. O rosto também desceu, roubou o monge e passou o canivete no seu pescoço de um lado ao outro, como comprovava a cicatriz. Caído e sangrando, ficou vendo aquele rosto se afastar. Quando faróis brilharam na estrada, o monge fez um esforço para se levantar, pulou na frente do carro e pediu ajuda. Enquanto ia para o hospital, rezava: _ Só quero ir para o céu se lá tiver cheiro de terra molhada. Talvez não tivesse, pois mesmo tendo perdido tanto sangue, ali estava: um milagre vestindo uma hábito e uma cicatriz.

As duas histórias me tocam. A primeira me fala de preconceito e amor. A segunda, de confiança e fé. Ambas me falam de esperança.


* Trecho da canção Milagre dos Peixes, de Milton Nascimento.

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Sua história daria um bom livro, cara

Tema: Do que me contaram
Por Laura Reis



Chegou o dia de ouvir alguma coisa que aquele cara tinha para me contar. E eu só pensava que, dali a alguns minutos, teria vontade de ter esses mesmos minutos de volta.
Ele começou já se afirmando diferente, pela idade e tipo de apresentação, arrancando risadas de todo mundo. Eu ainda pensando “legal cara, mas e daí?”.

Pois bem: foram 30 minutos que pareceram dois segundos durante os quais eu me mantive boquiaberta pelo menos metade deles. Entre risadas e olhos lacrimejados, eu finalmente me permiti entender um pouco de seu mundo e, por ter me permitido, tive a oportunidade de ouvir uma história incrível de alguém que, no fundo, só queria conhecer a própria história.

Quando menino, muito esperto e organizado, ele encontrou numa gaveta da casa um nome diferente daquele que costumava falar ao se referir à mãe. Alguns anos se passaram, nomes na lista telefônica percorridos; ele, já grande, decidiu prestar concurso para ter acesso à grandes bancos de dados. Passou em um, em dois, foi o melhor funcionário e ganhou confiança o suficiente para pedir ajuda a quem pudesse. Mais de 200 ligações depois, ele mesmo ouviu o primeiro “alô” da mãe biológica.
Conheceu, conviveu e aproveitou até o dia em que ela adoeceu e se foi. Ficaram os irmãos e a certeza de ter feito o que precisava para se sentir bem e, para agora, nos trazer para tão de perto essa história que era tão dele.

Em meio à comoção e multidão ao redor, obviamente agradeci e parabenizei (enquanto mentalmente pedia desculpas e fazia um carinho daqueles que qualquer um de nós precisa, sim).

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Do 1929

Tema: sinto falta
Por: Rosana Tibúrcio

Dia 7 de nov. de 2016 vi meu ex no lugarzim onde deixava antes...
Sinto falta de dirigir, ir onde e quando quisesse e voltar na hora que me convinha. Levar filha pequena na escola ouvindo o programa de dois malucos. Levar filha de novo, na outra escola, e voltar com a outra filha, parar na Santa Cruz pra um sorvete de brigadeiro. Ir atrás de chocolate pra filha carente; de uma bola a mais pras crianças brincarem de muitas bolas no quintal, mesmo que isso me custasse uma multa indecente de uma guardinha mais indecente ainda. Sinto falta de sair do banco, pega meu carro e passar na Vesúvio ou na Elis Marina e trazer todas as quitandas requisitadas naquele dia. Sinto falta de, do nada, pegar o carro e buscar 555 fitas cassetes (VHS, no caso) pra passar final de semana vendo filmes. Falta de esquecer o carro no trabalho porque vinha conversando com colega até chegar à rua de minha casa sem nem perceber. Sinto falta de dirigir sem destino, só pra pensar, resolver alguma pendenga subjetiva ou não, ao som das playlists de minhas fitas cassetes. Sinto falta de dirigir todos os carros que foram meus e de marido da época. Mas falta, falta mesmo, sinto de dirigir o carro que me sobrou na partilha, apenas porque eu era – e não sabia – sua legítima proprietária: o meu 1929.

Uma linda quinta-feira pra todos vocês, minhas gentes, pois nas quintas há sempre algo diferente no ar e hoje há falta boa, porque o ruim num faz falta, né? Hummmm que esperta eu sou com essa conclusão!!!  

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Tanta coisa

Tema: Sinto falta
Por: Nina Reis


Da despensa, caixa grande de papelão cheia de bolacha Tostines, uma prateleira da estante com Mirabel e outra com Toddynho, supermercado do lado de casa e a fartura de Kinder Ovo, brincar de basquete usando a cesta de lixo como cesta profissional, agilidade em pular o muro de casa e da vizinha, turma de amigos do bairro Nova Floresta e as inúmeras brincadeiras que fazíamos por lá, pipoca com café da casa da tia e o delicioso frango caipira que só ela sabia fazer, balas chitas de brinde que o moço da cantina dava, gincanas do Marista, das festas com nomes bregas de músicas, das trocas de papéis de carta, do quintal com amarelinha e da vitrola com as histórinhs infantis. 

terça-feira, 18 de abril de 2017

Tudo que falta para ficar OK *

Tema: Sinto falta
Por Rafael Freitas

Ver o irmão mais velho afinando varetas para fazer pipas e papagaios e depois vê-lo empiná-los; ouvir a fita cassete do Legião, Música para acampamentos, sozinho, na sala escura, num sábado à noite; cantar Sobradinho, Quando você voltar e Desde que o samba é samba; dos pães de torresmo que minha mãe fazia; de não ter medo de andar a cavalo; de umas bolachinhas que meu pai comprava que se chamavam palitinhos de leite; de assistir Cavaleiros do Zodíaco; dos livros que estão emprestados há muito tempo; das balas de café que o avô me dava; do LeBizarre; das reuniões depois dos ensaios do Le Bizarre, no bar que chamávamos carinhosamente de "escritório"; das sextas-feiras de karaokê na casa do Compadre; de ter cabelo; da voz dos sobrinhos quando demoram para mandar notícias; de um tempo em que não era viciado em séries; de ter mil alunos e alunas do fundamental I; de ir no cinema sozinho; do abraço e do olhar dos meus amigos e amigas que não moram tão perto; do irmão mais velho.


* Trecho da música Ok, de Tulipa Ruiz.


segunda-feira, 17 de abril de 2017

Um parágrafo de saudade


Tema: Sinto falta
Por Laura Reis





Acordar a qualquer hora, chegar do colégio e ver televisão, andar de patins no quintal, juntar as camas pra dormir, subir a estrutura da casa da tia, cantar no palco da cidade pequena sem nenhuma plateia, fazer do fandangos peças de dama, descobrir um andar escondido na casa da amiga, dormir até às 14h, trocar bilhetes durante a aula, passar o recreio na escada da biblioteca, conversar até cair no sono, tirar total na prova, trocar cartas, passar as férias com a família toda, puxar a pele do braço do tio e depois amassar (?), aparecer magicamente da sala pro quarto porque peguei no sono e alguém me carregou, fazer margem no caderno, colocar borrachinha preta no aparelho fixo, ter o prazo de entrega do trabalho adiado, ver fotos antigas em álbuns de verdade. 

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Catarse de mim

Tema livre
Por: Rosana Tibúrcio


Oi minhas gentes, contar procês que não tive crise dos trinta, quarenta ou cinquenta, mas tenho tido crise dos sessenta, sessenta e um dia, sessenta e dois dias, e três e quatro e cinco e trezentos e sessenta e cinco dias, ad infinitum... parece. Fato importante desse tempo todo de minha vida é que nunca gostei de andar de sombrinha e sempre acho que a chuva vai passar quando eu passar onde ela tava; tem dado certo e nas vezes em que molhei jurei viver pendurada numa sombrinha, só que no outro dia esqueço e assim sigo sem medo da chuva me molhar. Falando em medo, sempre tive medo de avião (olá Belchior) passando por cima de minha cabeça e não tive medo de andar num e eu lá passando, metaforicamente falando, por cima da cabeça de milhões de gentes; aliás, eu queria viver num avião por horas e horas – na janela – mas ouvi dizer que muitas horas da gente sentada em poltrona de avião gases surgirão, mas né? banheiro existe pra isso, mas o problema maior, ouvi dizer, é ficar com pés inchados e sempre tive medo de inchar pernas e pés e a pele estourar; graças a Deus não tenho inchaço em nada. Quedizê, ah, deixa pra lá! Gostaria de morrer depois que os homens aprendessem que não tem essa de ajudar mulher, que obrigações com a casa dos dois e os filhos dos dois são obrigações do casal e, falando sério, se querem mesmo ajudar a mulher vê aí se aprendem a dar um orgasmo a ela todas as vezes que houver um fuc fuc da vida ou mesmo um beijo, porque homem bom provoca prazer com um beijo, e beijo bão é melhor que sorvete com ovomaltine; ou era, tô mei esquecida. Mas voltando ao que sou, gosto e não gosto - não contei, mas era sobre isso o meu post, se bem que num tá sendo - eu amo baixar série e dou pulinhos quando tenho mais de um episódio pra ver, de duas séries preferidas, por exemplo. Falando em série eu repeti a quinta série duas vezes e, juro, não sou burra! Eu sempre dizia, àquela época, que essas repetições iriam combater minha imaturidade e eu falava isso porque havia aprendido o significado de imaturidade e achava chique usar a palavra; essa mesma babaquice aconteceu comigo e a palavra diagnóstico que aprendi e usei muito pra dizer de uma possível profissão que jamais exerceria; dizia só pra usar a dita cuja; como eu me sentia culta. Hoje em dia eu tenho preguiça de gente que usa palavras novas só pra dizer que é culto e nossasinhora tão mió escrever simples pra nóis tudo entendê, né non? Falando em chique, atualmente acho chique e gostaria de ter o dom de me expressar bem, falar fluentemente e segura; no caso, gostaria de desenvolver um bom discurso, o que é, acredito, bem mais prazeroso do que usar palavras raras. Gostaria mesmo de falar bonito e isso não tem nada a ver com sentir inveja que é algo, sério, que não sou de sentir. Aliás, quero uma palavra nova que represente o que sinto, como essa coisa do desejo de falar bem como determinadas pessoas, que admiro, falam. Sei que não é inveja, pois só quero ter algo parecido e não tirar algo que quero ter de determinada pessoa que tem. Falando em nome eu adoro o meu nome e som dele; não só meu nome, mas todos os meus apelidos que surgiram pra mim a partir do nome que tenho. Meu nome tem um dos sons mais lindos da vida, é como as músicas e as vozes que amo ouvir, como as vozes de Almir, Oswaldo, Zeca Baleiro e tantos outros lindões. Queria ter me casado com um cantor, mas o máximo que consegui foi namorar uns dois bofes que cantavam mais ou menos. Bem mais ou menos. Falando em cantar eu queria cantar como Marisa Monte ou Elis, mas cantar como Elis é pedir demais. Como Marisa também, mas queria. Falando em Elis nunca vou me esquecer da sensação que tive quando Elis morreu. Sinto falta dela até hoje. E... falando em hoje, penso que já deu por hoje, parando porque relógio despertou e me comprometi a um tempo pré-determinado pra dizer de mim. E disse! 


Uma linda quinta-feira pra todos vocês, meus amores, pois nas quintas há sempre algo diferente no ar e hoje há essa coisa louca aqui que sei não, viu? Sei não!!

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Trechos de Intimidade

Tema Livre
Por Laura Reis


Oswaldo Montenegro e[m] uma de suas obras


Me desculpe o gesto louco Sou uma criança não entendo nada
Se julgando amada ao som dos bandolins Na asa o sonho com o céu por detrás

De algum jeito vai passar Eu gosto de olhar para frente
Quero ser estrela Sem o compromisso estreito de falar perfeito

Tão velha ficou nossa fotografia Nossa colorida idade
Quantos amores jurados pra sempre Como se fosse urgente e preciso

Aquele nosso amor que eu já achei bacana chega ao seu final
Eu amava como jamais poderia


Ps.: Oswaldo Montenegro, a gente te ama.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Vida voa e o tempo é outro já*

Tema: Mudei
Por Rafael Freitas

Nove anos.
Tente se imaginar há nove anos. Onde estava? Qual seu corte de cabelo, seu filme preferido? Quais eram seus sonhos?

Eu morava com meus pais e avós, estudava canto no Conservatório, era integrante do Le Bizarre, trabalhava em uma empresa de massas. Ainda tinha cabelo para tentar mudar o corte. Não gostava tanto de filmes quanto gosto hoje,  mas já gostava de Moulin Rouge. Não lembro quais eram meus sonhos... Mas lembro de supervalorizar meus amigos e acreditar no amor.

Muita coisa mudou. Algumas nem foram premeditadas, já que não se pode ter o controle de tudo. Porque, se pudesse, quem aí não evitaria a dor de perder alguém muito próximo, não é mesmo? Ou de ser magoado, perder o emprego, ficar doente?

Você muda de casa, de cidade, muda as cores das paredes e os móveis de lugar. Os sobrinhos crescem, os preços aumentam, as roupas deixam de servir ou caem de moda. Sua banda preferida lança um novo CD ou então surge uma voz nova que te encanta mais que aquelas de nove anos atrás. Termina um namoro, começa outro, entendendo, aos poucos, como o amor funciona. E percebe que vai indo, adaptando-se a todas essas mudanças porque a vida não para e viver é etcétera. Guimarães Rosa estava certo: viver é etcétera.

Como nossas ideias também mudam. Nesse voar sem parar, esse etcétera nos proporciona experiências que nos permitem aprender, reavaliar, restaurar, relevar, deixar pra lá. É clichê, eu sei. Mas meu amor por clichês não mudou nesses nove anos. rs

Agora, por que estou falando tudo isso?
Porque há nove anos começávamos este blog. Os integrantes mudaram, os layouts, as fotos, os comentários, a frequência e o conteúdo das postagens. Eu costumava dizer que este era um projeto, mas depois de nove anos, ele já está bem crescidinho e funcionando, não é mesmo? Então temos um blog de postagens semanais onde os integrantes compartilham ideias, sensações, relatos e, acima de tudo, se amam e morrem de carinho uns pelos outros. E isso não vai mudar. Nunca.


Então, sirva-se aí de um copo e façamos um brinde. Nós, guaranetes, merecemos!


* Trecho da música Pavilhão de Espelhos, Roberta Sá.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

E não foram só meus cabelos...

Tema: Mudei
Por: Rosana Tibúrcio


Não sou de pedra e mudo sim, quem não? No meu caso, não mudei só os cabelos, eu mudei, em muito, minha essência. Como não sou besta nem nada, nisso não mudei, vou relatar só mudanças positivas. Espero que no final de tudo, você aí que me ama, esqueça como eu era e pense em mim como sou agora: maravilhosa e tal...

-Não sou favorável à adoção por casais homossexuais, afinal, como explicar a uma criança que ela tem dois pais ou duas mães? Como defendê-la da zoação na escolazzz
-ué, você acha mais fácil uma criança compreender por que ela não tem amor, uma casa normal, que foi abandonada ou agredida, por que passa fome? acha mais fácil do que ela sentir o amor de dois pais ou duas mães?
Graças à Jana eu identifiquei que minha compreensão era baseada, unicamente, em preconceito. Graças à Jana pude apoiar minhas amigas Luziá e Juliana quando da adoção de João Gabriel e hoje vejo como ele tá bem, mesmo as duas não estando mais juntas, mas isso é outra história. Segunda-feira, Lu estava com João Gabriel aqui em casa e mais uma vez constatei que meu jeito anterior de pensar, foi ignorante e desamoroso. Mas mudei, graças a Deus! E à Jana!

- Esse cartunista Laerte ficou maluco, precisa se tratar. Como assim, do nada, se veste de mulher? Muito esquisito!
Esquisita era eu. De tratamento eu precisava. E tive. Com o apoio do Rafa, meu filhote, e lá atrás... de algo que Taffarel me dizia sobre a não existência, unicamente de heterossexuais e homossexuais, que há mais, muito mais e que tudo é normal. Aos poucos com o que Taffa me dizia fui entendendo sobre a diversidade sexual. E com Rafa eu aprendo quase todo dia, mais e mais sobre. E com Rafa tenho a liberdade de falar sobre tudo, perguntar tudo e aprender o que posso, pra depois, ensinar. Pensar essa sominha pequena de apenas três tipos de sexualidade só demonstrava uma babaquice sem tamanho. Mas mudei, graças a Deus. E ao Taffa e, sobretudo, ao Rafa.

- Tem mulher que se veste quase que pedindo: me passa a mão pelo amor de Deus!
- oi? Quem é você Rosana Moralista da Silva Dolariva? Para de ser machista!
E hoje, graças a Deus e às Claras da vida (Averbuck e Corleone) à Patricia (do te amo, porra) e a tantas outras mulheres que encontrei na internet (essa terra maravilhosa, sim!!) eu mudei e luto com unhas, dentes, argumentos e sei lá mais o quê pra defender meu novo e correto jeito de pensar sobre o fato de que nós, mulheres, podemos estar com qualquer roupa ou sem nenhuma roupa que se dissermos não, É NÃO, e pronto. Eu era machista, mas graças a Deus mudei. E às Claras e às Patricias, e às Júlias!! E hoje, comigo é assim:
 #mexeucomumamexeucomtodas

- Deixar cozinha à noite sem arrumar? É nunca! E toda sexta-feira tava eu de unhas recém-arrumadas na quinta-feira, estragadas pós lavação de pratos da janta. Que boxxxxta, que chato! E agora, graças ao amor às unhas e ao valor que dou ao meu santo dinheirinho, mudei. E em todas as quintas à noite e às sextas até de tardezinha, tô eu de cozinha sem arrumar, má cazunhas lindas.
E eu, que era burramente maniada, mudei, graças a Deus e à tenência devidamente tomada.

- Eu tenho sempre pendurados, na minha cozinha, um pano de prato e uma toalha de mãos. Pra quem não sabe, pano de pratos é usado pra enxugar talheres; toalha de mão, pra enxugar as mãos. Facim, né? mas não, nem todo mundo "da conta de entendê" e eu, como fico? Vamos lá: eis que alguém lava as mãos na pia e pega o pano de prato em vez da tolha e eu, agora, mudada que estou, mas nem tanto porque não fiquei louca ainda, quero mais é matar o sujeito ou a sujeita que comete uma heresia dessas, porque onde já se viu não compreender a diferença entre um pano de prato, branco, e uma toalha, cheia de desenhim de fruta? onde essas pessoas foram criadas meu Deus? Não tiveram pai, mãe, chefe? não têm higiene? Vivem num chiqueiro? Tá, PAREI!! E eu, que tinha algumas manias como essa continuo tendo porque sou mutável sim, mas não como folha de bananeira que muda de acordo com o vento. Pra umas coisas prefiro e gosto de continuar sendo o que sempre fui: a Rosaninha maniada, impaciente, má de coração bão que só cês venuu, gente...


Uma linda quinta-feira pra vocês minhas gentes, pois nas quintas há sempre algo diferente no ar e hoje há confissões sim, de alguém que já foi muito preconceituosa, babaca, machista, com manias prejudiciais, mas que tem se tornado uma pessoa melhor, sim, a cada dia mais.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Lição de vida

Tema: Mudei
Por: Nina Reis





Mudei, mudei muito.
Me calei, me fortaleci mediante as minhas inquietações e minhas malditas inseguranças.
Cresci. Doeu.
Mudei de cidade, de casa, de estilo. Mudei na intenção de conhecer o outro lado da moeda.
Não seria justo comigo permanecer por uma vida inteira assim, estranha.
Mudei, pelo simples fato de acreditar que muita coisa poderia melhorar e melhorou.
Falei, gritei, chorei, dei a cara pra bater. Doeu novamente, mas valeu muito, muito a pena.
Hoje estou aqui, feliz da vida e ainda com algumas inquietações. Pronta para mudar novamente se for preciso. 
Uma palavra que não me assusta e carrego como lição de vida é a palavra mudança.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

A beleza de não permanecer sempre igual

Tema: Mudei
Por Laura Reis



Me lembro quando eu te disse que nunca sairia de perto dos meus pais, numa reação imediata à loucura que foi ouvir talvez um dia juntaríamos nossas manias num lugar relativamente longe de tudo que me era familiar.

Você ficou agoniado e penso que essa deve ter sido uma das primeiras vezes em que dormimos pensando em como será que aquilo ali daria certo no futuro. Eu, achando que você queria tudo ao mesmo tempo agora e você achando que eu não fosse querer nada nunca. Os dois igualmente extremos. Os dois igualmente errados.

Seguimos a vida e, então, numa possibilidade de contrariar aquela minha ferrenha afirmação inicial (de forma muito mais intensa), mudei o pensamento. Saí de perto dos pais, da cidade e de tudo o que me trazia segurança. Só fui.

Cheguei a argumentar que toda essa reviravolta de certezas (ainda cheia de dúvidas), tinha uma única garantia - além dos laços familiares: eu não queria me livrar de você.

Esse pensamento de apoio me ajudou mais do que eu pensei que pudesse. Foram meses de garantia de um apoio tão sólido quanto nunca imaginei. Aí acabou.


Mas nessa altura, eu já tinha mudado de novo. Agora eu estava mais forte.