quinta-feira, 14 de julho de 2011

As do corpo e as da alma

Tema: cicatrizes
Por: Rosana Tibúrcio
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Ela nasceu com uma cicatriz pré-definida, talvez definitiva: na alma.
Abandonada pela mãe, Estela foi localizada, como tem acontecido atualmente, num lixo; mas o lixo dela era de um hospital. Em meio a agulhas, seringas, vidros de soro e remédios, por pouco não se cortou, resultando cicatrizes pelo corpo.

Sua vida era mesclada de pouca sorte e alguns azares. Sorte teve com o nome que recebeu: Estela, que significa estrela e fugia da mesmice de tantas Vitórias abandonadas, encontradas e salvas, assim como ela.
Outra sorte foi que, no início da vida, recebia carinho e atenção de todos. Manchete nas TVs e jornais, mistério a ser investigado devido ao local onde foi encontrada. Se no lixo do hospital, só poderia ter vindo dali, pensavam. A própria mãe a jogara fora? Um médico, um possível sequestrador? Mas ninguém a reclamara. A mãe, por certo era a malfeitora. Concluíram.

Depois daqueles dias de zum zum zum, foi pra um abrigo e lá não recebia mais tanto carinho e atenção como antes, pois havia muitas crianças, de todas as idades e com cicatrizes iguais a dela. Sorte ou azar?

Com o passar do tempo, Estela foi perdendo o brilho e ficando, a cada dia, mais amuada. Percebeu que as crianças que caiam e se machucavam eram as que mais recebiam atenção. Os cortes feios na pele, sangue jorrando, dente quebrado, detalhes que deixariam marcas externas, pediam e recebiam atenção.

Muitas vezes, antes de adormecer, sonhava acordada que estava no hospital, cheia de pontos, fios, gentes e carinhos. Tudo ali, só dela e pra ela. Ela se imaginava com cortes grandes, muito esparadrapo, gesso, caixas e caixas de remédios e, depois, de bombons. Adormecia cheia de dor sabendo, mesmo sem entender direito, que a cicatriz na alma, aparentemente invisível, aumentava a cada dia.

Tomou uma decisão: pular do muro e cair em cima daquelas garrafas. Depois da dor, ela tinha certeza, teria a atenção das outras crianças, das enfermeiras e do doutor que era um moço tão bonito. Teria afeto exclusivo e daria os bombons pras coleguinhas. Queria apenas os abraços, os sorrisos e o tempo deles... e, depois, teria as cicatrizes pra mostrar, contar e relembrar um tempo de cuidados só com ela.

Quando abriu os olhos viu o doutor, a enfermeira, as tias do abrigo... o padre. O padre? Percebeu que perdia, ali mesmo onde adquiriu, a cicatriz da alma e, mesmo sem ver as do corpo, sorriu e fechou os olhos: feliz..


Uma linda quinta-feira pra todos vocês, minhas gentes, pois nas quintas há algo no ar e hoje há um projeto de história inventada por Rosana Tibúrcio, com direito a breguice, drama, exagero e blablablás...

28 comentários:

  1. GENTE, ESPERA, QUERO LER DE NOVO

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  2. GENTE, DA PRA SENTIR A DOR DAQUI.

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  3. ADOREI MUITO.
    (caps lock pra demonstrar o quanto)

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  4. Caramba, Rosanita! Doeu em mim também a dor da alma.

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  5. morreu a tadita da estelita, gente?
    acho que ninguém nunca morreu na história do guaraná.

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  6. aninha vai saber disso e vai chamar uma daquelas estrelas mais brilhantes do céu de estela.
    ;)

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  7. peraí, você disse 'projeto de história inventada', repetindo: projeto.

    qual parte não é inventada?
    não... não conta.
    ;(

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  8. [por que ninguém mais postou essa semana?]

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  9. Adorei seu texto! Concordo com a Laura, a Aninha vai começar a chamar uma brilhante estrela de Estela.

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  10. que vontade de cuidar da Estela pra sempre.

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  11. Eu ri dos comentários condoídos com a Estelinha.

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  12. Taffa, ailoviúxuxú!!

    Adoro quem puxa comentários com NOSSA.

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  13. Meninas, vocês que acompanharam o Taffa são umas fofas!!!

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  14. Eu disse projeto porque achei história estranha. Comecei ontem como quem não quer nada, tentei fazer uma daquelas minhas eternas piadas, até dei uma risadinha, mas a história foi tomando um rumo triste... e deu nesse projeto.

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  15. Eu fiquei com aquela fala de uma mulher daqui de Patos, na cabeça. Ela dizia, tem uma casa tipo AA, que "cuida" de deprimidos. Mas voltando... ela dizia que a depressão dói na alma, mas tanto, tanto, tanto que dói o corpo.

    Infelizmente eu sei do que ela fala e quero ficar bem longe disso, pra sempre.

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  16. Quero mudar o fim de minha história e acrescentar que ela virou uma estrela.

    Sugestões???? Quem? Grata!!

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  17. A Aninha ainda vai falar da estrelinha no céu, aguardem Karina e Laura.

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  18. Bom, agora vou cuidar de arrumar uma comida pra mim e voltar à senzala.
    beijos meus amores.

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  19. (ainda posso comentar depois do sumiço???)

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  20. Fiquemos com essa coisa da Aninha ter uma estrela pra chamar de Estela!

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