Tema: Jogos infantis
Por Rafael Freitas
Por Rafael Freitas
Rua Francisco Fagundes.
Esta era a rua da serralheria do Seu Bruno, um senhorzinho simpático, rechonchudo, de olhos claros e cabelos muito brancos. Ele poderia se vestir de papai-noel. Era tão bom velhinho quanto aquele das renas.
Esta também era a rua da minha casa. Eu descia as escadas, passava pelo muro rosado, quase desmoronando, da casa vizinha, atravessava a rua, passava pelo bar e subia a escada escura da serralheria de seu Bruno. Sempre com uma sacola nas mãos. E ele já sabia a pergunta de cor: _ Seu Bruno, me dá uns toquinhos?
Com o sorriso bondoso de sempre, ele apontava o monte de sobras de madeira amontoado no chão, ao redor de uma das máquinas. Dizia que eu poderia pegar, mas que era para ter cuidado para não me machucar nos dentes das serras afiadas.
Eu voltava feliz para casa. Subia de novo a escada. Passava pelo portão marrom, quebrado, e espalhava os toquinhos pelo corredor. Meu irmão mais novo, Hugo, sempre brincava também. Trazíamos os boizinhos de plástico, cavalinhos, até umas galinhas de gesso saídas de um presépio antigo. Ali começávamos a construir nossa fazenda. Quadrados, retangulares, triangulares, de bordas arredondadas: qualquer forma era utilizada para uma cerca, para um curral ou um portal inusitado.
Toquinho. Era assim que eu chamava esta minha diversão.
Neste mesmo corredor, soltávamos pião. Meu pai vivia dizendo que era preciso ter cuidado para o brinquedo não voltar contra a gente. Poderia machucar.
A Francisco Fagundes também era a rua onde eu brincava de bete ou taco, de pique-esconde, de bandeira, de cela, de Changeman. Nas árvores dali, eu subia e ficava de cabeça para baixo, com as pernas enroscadas em algum galho. Foi ali também que fui atropelado por uma Brasília amarela, desbotada, quando saí correndo da garagem exibindo o caminhãozinho, também amarelo, que acabara de achar entre as tralhas.
Não tive muitos brinquedos. Meus pais não podiam comprar. Não tive um lango-lango, nem um pogobol. Nem um super massa, nem jogos de tabuleiro, nem bichos de pelúcia. Meu sonho era ter um lego. E nem precisava ser temático, não. Um balde das peças simples, sem castelos ou piratas, já estava bom. Este continua sendo um sonho.
Eu brincava com as cartas de baralho que meu pai não usava mais. Ele sempre dizia que baralho velho não serve, as cartas vão ficando marcadas. Então eu pegava as cartas e ia empilhando com cuidado, vislumbrando minha torre, até chegar lá no topo, uma carta desequilibrar e acabar com tudo! Ou então, fazia um caminho com as cartas em pé para depois derrubar a primeira, que derrubaria as outras todas.
Algumas vezes jogávamos loto ou ciclovia. Era bom: sábado à noite, a família toda no chão da sala, ou no sofá, jogando loto ou ciclovia (que tem o tabuleiro bem parecido com o que a Marina fez para brincarmos de jogo da mímica). Às vezes montávamos o ferrorama do meu irmão mais velho, Marcelo, e ficávamos observando. Mas eu gostava mesmo era de montar o trenzinho embaixo da cama, pra ver melhor a luzinha acesa da locomotiva.
Ali na esquina, na descida que levaria ao estádio, Marcelo tentava me ensinar a andar de trolinho e a soltar pipa. Meu avô, Zezito, serralheiro como o seu Bruno, ajudava a fazer os carrinhos ou a maquininha de enrolar a linha para as pipas. Nunca fiz uma pipa. O trabalho das varetas era sempre do Marcelo. E a lembrança é tão prazerosa que quase sinto o vento daquele dia: o dia do papagaio de papel manteiga verde que o Má fez para mim.
Eu não tive os brinquedos que queria.
Mas hoje percebo que peças de um jogo podem se perder, algumas podem quebrar, e que sempre haverá um brinquedo mais moderno, mais cheio de luzes e sons que vai brincar sozinho e te deixar olhando.
Entre estas possibilidades, vejo os olhinhos claros do Seu Bruno e seus cabelos brancos. Ou meu pai abrindo a porta da estante para me dar aquele baralho surrado. E estas coisas não se perdem.
Com o sorriso bondoso de sempre, ele apontava o monte de sobras de madeira amontoado no chão, ao redor de uma das máquinas. Dizia que eu poderia pegar, mas que era para ter cuidado para não me machucar nos dentes das serras afiadas.
Eu voltava feliz para casa. Subia de novo a escada. Passava pelo portão marrom, quebrado, e espalhava os toquinhos pelo corredor. Meu irmão mais novo, Hugo, sempre brincava também. Trazíamos os boizinhos de plástico, cavalinhos, até umas galinhas de gesso saídas de um presépio antigo. Ali começávamos a construir nossa fazenda. Quadrados, retangulares, triangulares, de bordas arredondadas: qualquer forma era utilizada para uma cerca, para um curral ou um portal inusitado.
Toquinho. Era assim que eu chamava esta minha diversão.
Neste mesmo corredor, soltávamos pião. Meu pai vivia dizendo que era preciso ter cuidado para o brinquedo não voltar contra a gente. Poderia machucar.
A Francisco Fagundes também era a rua onde eu brincava de bete ou taco, de pique-esconde, de bandeira, de cela, de Changeman. Nas árvores dali, eu subia e ficava de cabeça para baixo, com as pernas enroscadas em algum galho. Foi ali também que fui atropelado por uma Brasília amarela, desbotada, quando saí correndo da garagem exibindo o caminhãozinho, também amarelo, que acabara de achar entre as tralhas.
Não tive muitos brinquedos. Meus pais não podiam comprar. Não tive um lango-lango, nem um pogobol. Nem um super massa, nem jogos de tabuleiro, nem bichos de pelúcia. Meu sonho era ter um lego. E nem precisava ser temático, não. Um balde das peças simples, sem castelos ou piratas, já estava bom. Este continua sendo um sonho.
Eu brincava com as cartas de baralho que meu pai não usava mais. Ele sempre dizia que baralho velho não serve, as cartas vão ficando marcadas. Então eu pegava as cartas e ia empilhando com cuidado, vislumbrando minha torre, até chegar lá no topo, uma carta desequilibrar e acabar com tudo! Ou então, fazia um caminho com as cartas em pé para depois derrubar a primeira, que derrubaria as outras todas.
Algumas vezes jogávamos loto ou ciclovia. Era bom: sábado à noite, a família toda no chão da sala, ou no sofá, jogando loto ou ciclovia (que tem o tabuleiro bem parecido com o que a Marina fez para brincarmos de jogo da mímica). Às vezes montávamos o ferrorama do meu irmão mais velho, Marcelo, e ficávamos observando. Mas eu gostava mesmo era de montar o trenzinho embaixo da cama, pra ver melhor a luzinha acesa da locomotiva.
Ali na esquina, na descida que levaria ao estádio, Marcelo tentava me ensinar a andar de trolinho e a soltar pipa. Meu avô, Zezito, serralheiro como o seu Bruno, ajudava a fazer os carrinhos ou a maquininha de enrolar a linha para as pipas. Nunca fiz uma pipa. O trabalho das varetas era sempre do Marcelo. E a lembrança é tão prazerosa que quase sinto o vento daquele dia: o dia do papagaio de papel manteiga verde que o Má fez para mim.
Eu não tive os brinquedos que queria.
Mas hoje percebo que peças de um jogo podem se perder, algumas podem quebrar, e que sempre haverá um brinquedo mais moderno, mais cheio de luzes e sons que vai brincar sozinho e te deixar olhando.
Entre estas possibilidades, vejo os olhinhos claros do Seu Bruno e seus cabelos brancos. Ou meu pai abrindo a porta da estante para me dar aquele baralho surrado. E estas coisas não se perdem.
lindo demais, rafa.
ResponderExcluirilustrou sua infância...
ResponderExcluirjá tão distante...
heausdfhuasfgasydufgbahsdfafas!
mas vc ainda é jovem por dentro.
ResponderExcluir[tentando corrigir]
eu não joguei pião igual você..
ResponderExcluirnunca dei conta.
só jogava pic-esconde e afins pela rua.
talvez o Seu Bruno era o papai noel e vc não sabia.
ResponderExcluirrá!
ai Rafa, que texto mais nostálgico e delicioso...
ResponderExcluirMinha vida de infância era assim tb, entre pipas e coisas simples. Só que eu sempre fiz minhas pipas... rs
ameiii...
Bom ler um texto leve numa terça meio pesada.
Saudade de vc.
Tive a maioria dos brinquedos que quis, mas o melhor sempre foi brincar na rua e inventar brinquedos ou brincadeiras, fazer campeonato de queimada... tempo bom que só fica nas lembranças mesmo...
ResponderExcluirEsse seu Bruno deve parecer aqueles velhinhos fofinhos q sempre encontro na rua de manhã e amo dar bom dia, eles respondem com sorriso nos olhos.
ResponderExcluirEsse post foi uma delícia de fazer!
ResponderExcluirLevo um pião pra ti em Janeiro, Brant!
Flavíssima!
ResponderExcluirQue delícia vc por aqui!
Eu jogava queimada tb, esqueci de citar no post!
O Seu Bruno corresponde à sua descrição aí sim, viu. E ele era avô de uma garota que ficou minha amiga na época da faculdade, a Wilminha.
Eu tô em crise com a música!
ResponderExcluirQueria Fazenda, do Milton; ou ursinho Blau Blau, do Silvinho!
haha
Milton, né, nêgo!
ResponderExcluirRafa, que infância linda! Eu tmbm não tive muitos brinquedos, me lembro de um cai cai balão e um jogo de memória Disney, agora nada de pogobol, lego e barbye.
ResponderExcluirMas o que gostava mesmo era de rabiscar qualquer pedacinho de papel que encontrava. Mas na minha infância não tinha nenhum senhor como Seu Bruno...
Deu uma vontade de voltar a ser criança...
BJOS!
Se você é jovem ainda, jovem ainda, jovem ainda
ResponderExcluirAmanhã velho será, velho será, velho será
A menos que o coração, que o coração sustente
A juventude, que nunca morrerá!
Existem jovens de oitenta e tantos anos
E também velhos de apenas vinte e seis
Porque velhice não significa nada
E a juventude volta sempre outra vez!
Chaves
hahahahahahah
ResponderExcluirgente imagina esa pessoa com toquinhos de madeira. e não querendo sujar sua roupinha nova de marinheirinho!!!
Eu nucna tive nenhum desses briquedos.. frescobol, pego bol, essas coisas e nem por isso fiquei uma pessoa traumatizada..
ResponderExcluirLego é para gente certinha.. e somos malocas...
eu tinha casa da barbie, carro da barbie, e todas as barbies..
ResponderExcluirisso quer dizer que eu era uma criança insuportavel..
cresci e fiquei melhor!!
Priscila!
ResponderExcluirSe eu te contar que tinha escrito um parágrafo sobre tintas, papeis e afins cê acredita?
Mas acabei tirando!
rs
A Paula era quase uma Barbie, né gente???
ResponderExcluirhahaha
Adorei a música que vc lembrou, Paula!
ResponderExcluirMas tinha tb aquela dos brinquedos:
A brincar/ a brincar/ brincaremos, brincaremos/ sem parar
Bom demais!
Eu gostava de brincar com barro tb, acreditam?
ResponderExcluirTinha um quintal nos fundos de casa e uma boa parte dele não era cimentada. Eu cavucava a terra com uma colher, misturava com água e fazia esculturas!
hehe
Rafa, então eu não era a única!!!! Claro que acredito, rs.
ResponderExcluirvc parafraseou a 'rua Nascimento Silva, 107', Carta ao Tom do Vinícius, com esse título? rs
ResponderExcluirpensei imediatamente...
'É meu amigo só resta uma certeza
É preciso acabar com a natureza
É melhor lotear o nosso amor...'
Coisa mais linda seu post. Lindo demais, se fechar os olhos dá quase pra ver a rua, do jeitinho que descreveu.
ResponderExcluirDeu saudade da minha infância, e eu também não tive um Lego!!
nossa. que delicia de texto.
ResponderExcluire que delícia de brincadeiras.
acho bom demais essas brincadeiras todas que todo mundo pode brincar.
ResponderExcluirdia desses, na aula de estética e cultura de massa, meu professor levou objetos pra que a gente avaliasse a estética e tal.
ResponderExcluiro que eu peguei era um disco voador. aí depois eu notei que faltava uma peça e no caso era um disco voador tipo peão.
e ele era tipo "de dar corda" e soltava luzes fluorescentes e era ótimo.
no mais, não tenho lembrança de outro peão.
eu nunca fiz pipa. nem soltei. nem nada.
ResponderExcluir=(
"Uma garota que ficou minha amiga na época da faculdade, a Wilminha"
ResponderExcluirhdiuahiuadhiudhiuadshiuadshiadshhash
ai, não sei porque, mas achei isso tão engraçado. Wilminha.
"eu tinha casa da barbie, carro da barbie, e todas as barbies..
ResponderExcluirisso quer dizer que eu era uma criança insuportavel..
cresci e fiquei melhor!!"
eu não teria certeza da última frase, paula.
"Eu cavucava a terra com uma colher, misturava com água e fazia esculturas!"
ResponderExcluirE-S-C-U-L-T-U-R-A-S
ahisuhsiauhasiuhasiuhiuashasiuh
é muita pretensão.
dhdaisuhdaisuhdiaushiusdahiudsahiudah
ai, tô solteira, galere.
ResponderExcluirahisuahiasuhiusahiuash
[comentário aleatório]
Li o post mais cedão, até contei pro Rafito, mas não pude vir. Sentiram minha falta? Choraram por mim? Minha ausência chamou outras presenças... iurúúúú!!!
ResponderExcluirPost mais lindo, um afago na criança aqui de cada um, coisa mais cuti cuti...
ResponderExcluirAdorei o título. Algo assim, de poeta messssss
Nunca na minha vida eu imaginei um senhor de nome Bruno, num sei se é porque existe um Bruno na minha vida que se eu pudesse traçava ele... hehehe
ResponderExcluirFico só imaginando o Rafa: “me dá toquinho” com uma cara de pidão, sei lá!!!
Hummm, construía fazenda, cerca, entendi, tai o estranho desejo em ser cowboy... saquei!
ResponderExcluirBete aqui pra gente chama-se: “licença Bete”. Quem seria essa Bete, né?
Como assim, cê ficava de ponta-cabeça? Medo não? Nó, meu ídolo!!!
Sabe uma coisa? Não sou muito favorável a esse trem de muito brinquedo comprado. Criança até gosta de possuir, mas não é o que mais rola de importante e prazeroso.
ResponderExcluirDelícia essa brincadeira de baralho.
ResponderExcluirSoltar pipa é bom demais. Fazer pipa é melhor ainda. Haja cola. Cês usavam cola de polvilho feita em casa? Era a melhor – no meu tempo, né?
GEnteeeeeee, sem comentários os comentários de Paulinha e Laurinha. São as louquinhas.
ResponderExcluirE adorei a presença de Jéss e Flavíssima.
A de Priscila e do Taffa nem fala mais, sempre gosto.
beijossss a todos!!
putz, acredita q eu brincava de "toquinho" tbm, qdo criança?! mas num montava fazendas naum... nunca fui mto rural, montava predios, estradas, pracas. Pseudo-arquiteto desde mais novinho...rs ai, ai... tenho mta nostalgia de infancia, acho q por isso q ainda hj gosto de desenho animado, filme de criança, algodão doce e pipoca... não quero envelhecer tão logo nao.. mas afinal, a idade tá na cabeça da gte, ne? e não nos anos, nem na aparência e nos cabelos grisalhos...rs
ResponderExcluirI really do talk!rs
ResponderExcluirTaí algo que nunca imaginei: o Ti brincando de toquinho!
ResponderExcluirManinhaa
ResponderExcluirSabe que eu tb achei esse trecho da Wilminha engraçado?
rs
Mainha,
ResponderExcluiràs vezes minha mãe fazia cola de polvinho sim!
E a linha era número 10. rs
Que legal, Rafa!!!
ResponderExcluirEu conheci o seu Bruno, eu muito de vez em quando pegava toquinhos lá tbm.