Chegou a minha vez.
Enfim, com meu consentimento, deixaria alguém lembrar o meu passado, recitar o presente e, quem sabe, me deixar umas linhas de esperança pro futuro.
Ela não tinha aquela cara de quem faz previsões cabulosas ou quem faz mandinga nem nada disso.
Faxineira da escola da cidade vizinha, ela fazia suas consultas quase que por hobby e, sendo assim, me pareceu confiável.
Numa despretensiosa sala de aula decorada com o quadro negro e armários, ela me esperava sentada numa daquelas carteiras mesa-cadeira, que são ótimas pra tirar cochilo nas aulas chatas.
Nos cumprimentamos de forma tímida e eu me sentei em sua frente e logo começamos a sessão. Ela olhou pra mim e pra palma da minha mão direita e disse: Seus pais são separados.
Penso que, tendo dito algo que não fosse verdade eu já teria logo pensado porque resolvi fazer aquilo e em como eu estava perdendo, tanto, o meu tempo.
Mas não, ela me olhava nos olhos com aquele ar de compaixão e dizia o quanto eu tinha passado maus bocados por conta dessa separação e, então, só me restou jogar no chão toda e qualquer armadilha que tinha colocado em mim, até ali.
Ao fim da sessão trocamos endereços e durante um ou dois anos trocamos algumas poucas cartas. Ela me contava de sua vida de quase aposentada e eu lamentava algumas coisas da minha adolescência.
O tempo passou e eu não morri com dezessete anos [tá, ela não disse isso, mas minha linha da vida ia só até ali]. Lembro que no meu aniversário de dezoito eu não pulava de alegria porque podia beber cerveja, frequentar festas loucas ou tirar minha carteira de motorista, mas comemorava porque minha linha da mão estava só incompleta, só isso.
Sem contar que ainda não tenho filhos. E, segundo minha querida profética do colégio, eu terei uma dezena. [Será?]
Eram poucas as coisas que ela disse e que me lembrava, até mesmo no dia seguinte, mas a questão do pais separados mexeu demais comigo e me faz pensar sempre se cada risquinho desse em minha mão realmente quer dizer algo, se desde meu nascimento meu destino está ou não traçado e mais um monte de se’s por aí.
Lembro sempre dela e do quanto queria voltar lá em sua cidade, pra dar um abraço e dizer como gostei de conhecê-la e de me livrar daquela armadilha toda. E agora, posso dizer, acredito um pouco mais nessas profecias que existem por aí, em horóscopos e em combinação de signos que sempre me fazem dar uma risada ou que me deixam com um ponto de interrogação estampado na testa achando absurdo ou super certo.
E não, eu não me importo com os erros cometidos, com as previsões furadas. Porque até mesmo eu, que deveria me conhecer completamente, tomo atitudes que, segundos depois, me espantam. Nem eu sei traçar planos pra mim direito.
Que dirá ela, uma faxineira de colégio que só tem o coração bom e aquele dom de passar compaixão e confiança só no olhar. Que dirá ela..
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
D. Ruth
Tema livre
Por LauraReis
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Cartomante
ResponderExcluirElis Regina
Nos dias de hoje é bom que se proteja
Ofereça a face pra quem quer que seja
Nos dias de hoje esteja tranqüilo
Haja o que houver pense nos seus filhos
Não ande nos bares, esqueça os amigos
Não pare nas praças, não corra perigo
Não fale do medo que temos da vida
Não ponha o dedo na nossa ferida
Nos dias de hoje não lhes dê motivo
Porque na verdade eu te quero vivo
Tenha paciência, Deus está contigo
Deus está conosco até o pescoço
Já está escrito, já está previsto
Por todas as videntes, pelas cartomantes
Tá tudo nas cartas, em todas as estrelas
No jogo dos búzios e nas profecias
Cai o rei de Espadas
Cai o rei de Ouros
Cai o rei de Paus
Cai não fica nada.
experiência interessante.
ResponderExcluirja passei por algo similar.
ResponderExcluirmas a mulher errou todas as previsões.
=/
então eu tô mais na turma dos: 'do meu destino cuido eu'.
ResponderExcluireu adorei o relato!
ResponderExcluirdeu pra imaginar você fazendo cara de indiferente ao entrar na sala e se espantando quando a mulher declarou sobre a separação.
bjão!
Oi, Laura (agora acertei, né? naquele outro dia, se vc olhar o horário da postagem, vai ver que eu já tava dormindo, hehehehe).
ResponderExcluirVou contar um segredo: eu não tenho linha da vida. Dá para acreditar?
E quando leram a minha mão, numa dessas experiências que a gente vai mais para testar a "cara de pau" alheia, a primeira coisa que me disseram também foi sobre um momento difícil da minha vida. Vai entender o que isso quer dizer, né?!
Bjos
[Laura... Eu te odeio!]
ResponderExcluirAmei isso!
Um amigo um dia, bêbado, foi ler a mão do pessoal da turma. Ele dizia que fazia isso sempre, que tinha o dom mesmo.
ResponderExcluirE o que ele me disse?
Que eu tenho dificuldades de equilíbrio entre razão e emoção.
Tipo: precisava ser cartomante pra me dizer isso???
E não, eu não me importo com os erros cometidos, com as previsões furadas. Porque até mesmo eu, que deveria me conhecer completamente, tomo atitudes que, segundos depois, me espantam. Nem eu sei traçar planos pra mim direito.
ResponderExcluirDá a mão, maninha. Bem-vinda ao clube!
A mulher só não disse, ou será se disse, que você é assim e pronto: determinada, não se deixa levar por onda nenhuma.
ResponderExcluirDez netos? urggghhh!!
Eu me lembro dessa história da cartomante.
ResponderExcluirEu sempre fui muito cética quanto a isso. Até queria uma hora ir numa dessas mulheres que leem mão, destino e tal.
Eu seria uma cartomante interessante e acertaria muitas coisas. Uma questão de inteligência, só... creio.
Mas esse não é um post meu, é o de Laurinha... a menina que sobreviveu à linha do tempo.
ResponderExcluirmas tipos.. a mulher nem é cartomante.
ResponderExcluircartomante é só a música.
a mulher é quiromante, quem lê a mão.
ahsuihsuihasuihasiuhasuih
marininha já foi numa cartomante e super rolou coisas certas.
ResponderExcluirum dia vou lá.
acho super bacana.
Geeente, que emoção.
ResponderExcluirMeu sonho é ter uma experiência assim. De verdade. Eu acredito. Sou a pessoa menos cética desse mundo. Acredito em tudo. E acho tudo interessante. E isso foi muito interessante.
Nossa, Laurinha, que post bacana. Primeiro pelo seu jeito único de escrever e depois pela história em si, pela amizade que fez, pelas coisas que as 'previsões' da faxineira te fizeram pensar.
ResponderExcluirRealmente lance de destino é algo complexo, se existe mesmo ou se a gente traça.
Se tu sente que deve ir numa dessas 'Mãe Dinah' da vida, vai e me conta depois... hahahahaha
Saudade do c, menina linda!
Bjo e bom fim de semana.
Eu esqueci de dizer sobre a escolha da música.
ResponderExcluirElis Regina é tudoooooooo!
Adouuuro!!
Minha filhinha cuti cuti...
Olha a Flavíssima aqui, minhas gentes.... iurúúúú!
ResponderExcluirLaurinha, com seus textos, levanta até defunto... oppss, isso num vai pegar bem... ou vai?
eu não presto.
E Paulinha bandida? E Nina bandida 2?
Como essas mulheres trabalham, minhas gentes.
Clarinhaaaaa veio também.
ResponderExcluirNum tô falando?
Muito bommmmmm!
Pra dar sorte: vinte!
ResponderExcluir