Eu gosto de Junho. É um mês simpático.
Santos. Festas. Simpatias. Fé. Casamento. Broa de pau-a-pique. Bolo de fubá. Biscoito. Canjicada. Vinho quente e quentão. Quadrilhas. Sanfona. Bandeirinhas. Cores. Pula a fogueira! Babados. Xadrezes. Chita. Sardas e bigodes feitos a lápis. Tranças. Chapéus.
E um frio que convida e inspira.
Embora sempre tenha gostado de festas juninas, participava pouco quando criança. Meus pais não me deixavam dançar quadrilha, acredito que para evitar gastos com roupas e afins.
Mas lembro que gostava de brincar na barraca da pescaria, mesmo poucas vezes e sem ganhar um bom prêmio. Só pelo prazer, pela ansiedade e vontade de ganhar um daqueles embrulhos maiores ou cartuchos cheios de doces.
Hoje, marmanjo, se recebo algum convite para uma festa junina, não hesito! E me apresento a caráter: calça com remendo, camisa xadrez e bigode de lápis (embora barbudo, a graça é o bigode rabiscado!).
Minha única frustração é a barraca de Correio Elegante.
Nunca recebi nenhum. Nem enviei.
Verdade é que esta frustração não teria sido velada não fosse um Correio Deselegante, digamos assim.
Lá se vão uns quatorze anos. Uma das garotas mais tímidas da classe, na época, me entregou um papel amassado, dizendo que alguém tinha mandado me entregar, e saiu apressada. Quem teria me enviado aquele bilhetinho?
Abri, li ansioso: Se minha vida fosse um filme, você seria um dos efeitos especiais!
Aquilo era a glória! Eu me senti uma obra do Spielberg! Era felicidade demais para um garoto sem grandes pretensões, orelhudo e feinho. Não podia ser verdade!
E não era.
Ali, toscamente adaptado, enxertado, estava um “D” rindo da minha cara. Com atenção, lia-se: Se minha vida fosse um filme, você seria um dos defeitos especiais!
Eu continuava me sentindo uma obra do Spilberg, mas saído do Jurassic Park, talvez...
Não me lembro se fui embora, se fiquei, se senti vergonha ou vontade de chorar.
Mas lembro que não entendi, como ainda não entendo, se [há] haveria um motivo. Pra que a sacanagem? Pra que brincar assim com os sentimentos alheios? Não avaliaram quantos anos de terapia esse garoto teria de fazer para sarar sua autoestima?
Bom... Ainda não foi necessário buscar terapia. Nem regressão, nem florais. Não para este caso.
Passou.
Continuo gostando de festas juninas, quadrilhas e delícias típicas.
E mesmo nem tão romântico assim, continuo esperando um Correio Elegante.
Divertido, criativo, inteligente.
E muito elegante.
Rafa
Santos. Festas. Simpatias. Fé. Casamento. Broa de pau-a-pique. Bolo de fubá. Biscoito. Canjicada. Vinho quente e quentão. Quadrilhas. Sanfona. Bandeirinhas. Cores. Pula a fogueira! Babados. Xadrezes. Chita. Sardas e bigodes feitos a lápis. Tranças. Chapéus.
E um frio que convida e inspira.
Embora sempre tenha gostado de festas juninas, participava pouco quando criança. Meus pais não me deixavam dançar quadrilha, acredito que para evitar gastos com roupas e afins.
Mas lembro que gostava de brincar na barraca da pescaria, mesmo poucas vezes e sem ganhar um bom prêmio. Só pelo prazer, pela ansiedade e vontade de ganhar um daqueles embrulhos maiores ou cartuchos cheios de doces.
Hoje, marmanjo, se recebo algum convite para uma festa junina, não hesito! E me apresento a caráter: calça com remendo, camisa xadrez e bigode de lápis (embora barbudo, a graça é o bigode rabiscado!).
Minha única frustração é a barraca de Correio Elegante.
Nunca recebi nenhum. Nem enviei.
Verdade é que esta frustração não teria sido velada não fosse um Correio Deselegante, digamos assim.
Lá se vão uns quatorze anos. Uma das garotas mais tímidas da classe, na época, me entregou um papel amassado, dizendo que alguém tinha mandado me entregar, e saiu apressada. Quem teria me enviado aquele bilhetinho?
Abri, li ansioso: Se minha vida fosse um filme, você seria um dos efeitos especiais!
Aquilo era a glória! Eu me senti uma obra do Spielberg! Era felicidade demais para um garoto sem grandes pretensões, orelhudo e feinho. Não podia ser verdade!
E não era.
Ali, toscamente adaptado, enxertado, estava um “D” rindo da minha cara. Com atenção, lia-se: Se minha vida fosse um filme, você seria um dos defeitos especiais!
Eu continuava me sentindo uma obra do Spilberg, mas saído do Jurassic Park, talvez...
Não me lembro se fui embora, se fiquei, se senti vergonha ou vontade de chorar.
Mas lembro que não entendi, como ainda não entendo, se [há] haveria um motivo. Pra que a sacanagem? Pra que brincar assim com os sentimentos alheios? Não avaliaram quantos anos de terapia esse garoto teria de fazer para sarar sua autoestima?
Bom... Ainda não foi necessário buscar terapia. Nem regressão, nem florais. Não para este caso.
Passou.
Continuo gostando de festas juninas, quadrilhas e delícias típicas.
E mesmo nem tão romântico assim, continuo esperando um Correio Elegante.
Divertido, criativo, inteligente.
E muito elegante.
Rafa