A menina que queria ser bela

Por Rosana Tibúrcio

Ela era uma menina tímida. Tímida e medrosa. Tímida, medrosa e feia.
Ela era também leal, pois acreditava que a lealdade e a correção fariam dela uma pessoa atrativa, bela.
E pautou suas ações assim, sempre baseadas em dizer a verdade.
Na sua timidez de menina feia, medrosa e sem atrativos queria brilhar aos olhos de todos, por ser verdadeira; verdadeira, leal e inteligente: bela.
De nada adiantava seus esforços em demonstrar essas qualidades que, para ela, eram essenciais numa menina bonita. Continuava feia, aos olhos de todos.
De curiosidade aguçada ficava à espreita ouvindo conversa de adulto. E das crianças eles falavam, por vezes. Quem sabe ao falarem dela poderiam dizer: “olhem como ela está ficando bonitinha.” Mas não, quando dela diziam, até falavam que ela era inteligente, boazinha, apesar de tímida e medrosa; porém, acrescentavam: “como ela é feinha, né?”
E ela passou a ouvir umas histórias: toda criança feia, quando cresce fica bonita. E nessas histórias residiam suas esperanças de um dia ser mais que inteligente e leal: ser bela. E ficou louca pra crescer.
Ouvia também que a dor fazia com que as pessoas ficassem mais encantadoras, bonitas. Não sabia de que dor nem de que beleza eles falavam...
E sem saber do quê se tratava passou a pedir todos os dias e noites, incansavelmente e apesar do medo, que Deus lhe desse uma dor dilacerante, mas que a tornasse bela, em seguida.
E assim, não contava que o dente doía, ou a barriga ou qualquer outra parte do seu corpo de menina tímida, medrosa e feia.
Quem sabe, a dor aumentaria de tal forma que: UM MILAGRE!!!
E ela olhava as meninas belas e não conseguia imaginar que elas poderiam ter sofrido para ficarem como eram... Não, isso era mentira, pensava. E descobriu, ainda pequena, a não-verdade.
O tempo foi passando, os pedidos a Deus diminuindo e ela foi se acostumando com sua aparência de moça tímida, feia e ainda, um tanto, medrosa. Vez ou outra se perguntava: "qual sofrimento seria capaz de me fazer bela?"
Ficou adulta e conheceu várias dores: a do abandono, das rasteiras, de outros medos, das traições, da desconfiança, das perdas, das outras mentiras, das saudades. Em meio a essas dores ela foi se conhecendo, aos poucos e, a cada dia, mais.
E se descobriu bela ao saber que muitos apreciavam sua companhia, assim como ela estimava estar perto daquelas meninas belas, lá do seu tempo de infância. E foi perdendo a timidez e o medo; foi se aceitando e se percebendo...
Continuava sendo leal, mas não mais tão tímida e medrosa. E soube então que as dores que uns e outros falavam eram as dores da alma e a beleza era a da alma também; alma, que se fortalecia ao lidar com o sofrimento e a infelicidade.
Infortúnios que não pautaram sua vida, pois se descobriu corajosa, muito mais que leal ou inteligente.
E sua coragem lhe ensinou que o "percebido" podia ser feio ou belo; qualquer coisa que fosse, até a sua imagem no espelho; dependia apenas da forma com que ela transformava suas dores para a realidade que quisesse viver. E ela aspirava, mais que ser bela, viver feliz.
Ela escolheu ser feliz. Feliz e bela!


Uma linda quinta-feira para todos vocês, pois nas quintas há algo diferente no ar. E nesta quinta é dia de seguir a sugestão de Leandra Borges (Ingrid Guimarães): fazer um carão e “ôôô”, acreditar que você é bela e que pode ser uma super-hiper-mega-top-model. E ser feliz!!!

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