Tema: descrição de um ambiente
Por LauraReis
Aqui onde eu moro é um pouco abafado e escuro, mas a gente acaba acostumando, né?
A moça que me colocou aqui dentro tinha um sorriso tão bonito no rosto na hora, parecia tão feliz, que eu nem me senti tão ruim quando ela fechou a porta.
Ou seria a janela? Não sei distinguir ainda as coisas da minha nova casa.
Sei que aqui tem muitos de nós, tão diferentes, morando juntos. E nos damos bem, porque parece que com todo mundo é assim: a última lembrança do lado de fora é o tal do sorriso da moça.
Às vezes também parece apertado, um fica em cima do outro por aqui, mas a gente se ajeita e convive bem.
Tem dias, assim, mais ou menos uma vez por mês, que a moça do sorriso bonito abre nossa casa e a gente pode tomar um ar. Mas ela parece sempre muito apressada, porque, apesar de todo aquele sorriso, é sempre tão rápido o tempo em que ela nos deixa dar um passeio.
E parece até não ser a mesma moça do sorriso bonito, considerando que ela coloca nossa casa de cabeça para baixo, nos espalha e depois junta tudo de novo, tudo muito rápido. Nesses momentos sempre sentimos a falta de um colega, mas aí passa um pouco, um dia ou dois e a moça sempre traz ele de volta pra casa. E quem sai daqui nunca conta o que fez lá fora, acho que ela pede segredo, não sei.
Tem dias que sinto vontade que ela me pegue, porque parece que é coisa importante, sabe? Mas às vezes eu tenho certo receio de que a felicidade que meus colegas ficam quando voltam pra casa seja só uma farsa.
Porque assim, antes eu não acreditava em farsas não, mas tem uns colegas aqui que possuem uns discursos tão pessimistas, tão sofridos, são tão cheios de histórias frustradas que, sabe... isso acaba influenciando, de uma forma ou de outra, nosso pensamento. Sei que me sinto feliz e estou quase sempre alegre, acho que em mim tem coisas felizes enraizadas, escritas pelo tempo, talvez. Voltando a falar da minha casa: aqui, apesar de sempre ficar fechada, como a gente acostuma e também porque às vezes a moça abre a porta
(ou a janela?), dá pra saber que tem umas paredes que são todas brancas e outras que são coloridas. Como quando abre a gente fica bastante curioso, querendo ver lá fora e ver a gente e ver a casinha, eu não consegui ainda definir quais são as cores das paredes coloridas, mas sei que tem vermelho, e eu gosto tanto de vermelho. Na verdade, acho que gosto mesmo de morar aqui. Minha antiga moradia me obrigava a ficar tão paralisado, parecia tão etiqueta, era chato
(literalmente?). E aqui, sabe, são tantos sentimentos juntos, num lugar tão pequeno, parece tão acolhedor. Me sinto bem. Sou feliz aqui. Obrigada, moça do sorriso.
Esse depoimento foi dado por um dos milhares de bilhetinhos e cartinhas que Laura guarda dentro de sua caixinha xadrez pequenininha.