Tema: Nova fase**
Por Rafael Freitas
Para falar de mudanças, poderia
recorrer àquela frase famosa de Heráclito, sobre ninguém conseguir banhar-se no
mesmo rio duas vezes. Acho bonito, poético. Mas sinto que precisamos de mais
realismo neste momento: nem sempre a mudança é fácil. Quase nunca, talvez. E é
sempre uma escolha: é preciso QUERER mudar.
Mesmo sendo tão difícil, mudar é
uma grande vantagem de estar vivo. Afinal, o mundo muda a todo momento - olha
aí o rio lá do Heráclito - e adaptar-se é preciso.
Eu comecei algumas mudanças. Insisto: apenas comecei. Acompanhem.
1 - Achava desnecessário que um
cara gay "carregasse a bandeira", ignorando completamente que os
direitos e a visibilidade de que a comunidade LGBTQIA+ goza (!), hoje, foram
alcançados graças à coragem e à dor daqueles que levantaram suas (nossas?)
bandeiras.
2 - Julgava comportamentos
sexuais diferentes do meu, como se houvesse uma única maneira de ser gay E ESSE
JEITO ERA O MEU, CORRETÍSSIMO, os viado tudo que lutasse para se encaixar nesse
padrão.
3 - Não tinha noção nenhuma da
complexidade das relações de gênero e da prisão criada pelos papéis atribuídos
ao masculino e ao feminino - mesmo tendo sofrido por ser a criança viada que
odiava futebol, gostava de estudar, desenhar, bordar, que tinha que pentear o
cabelo do lado direito porque era o lado de homem e não podia aprender a cozinhar
por ser coisa de mulher. E esses são exemplos ínfimos.
4 -Também não tinha noção da
complexidade das facetas da sexualidade humana. Nada é preto no branco.
Sexualidade também não é uma coleção de caixinhas em que cada um escolhe uma,
entra nela e, então, passa a comportar de acordo com as instruções daquela
embalagem. É complexa, mutável, inexplicável. E linda.
5 - Não percebia que ser um homem
cisgênero branco de classe média é muito privilégio. Que não basta dizer
"não sou racista" para não ser. Que o racismo está enraizado, erva
daninha que beira até mesmo pessoas bondosas e sábias, pessoas que amamos, mas
que repetem suas piadas, seus comportamentos e seu discurso de privilegiado.
Eu pirei no começo, admito. Mas
imaginem uma casa bem construída, bem alicerçada, mas antiga, fiação toda
prejudicada, portas e janelas que nem segurança oferecem mais. Mas o terreno é
tão bom que vale o investimento de botar tudo abaixo, implodir, ver cacos de
tijolos voando, poeira subindo e é só caçamba de entulho levando tudo embora.
Uma desconstrução começa assim.
Somos bons terrenos. Somos
construções bonitas em potencial. Cada um sabe até onde pretende desmanchar a
casa antiga; talvez algo possa ser reaproveitado. Mas é essencial que a casa
nova tenha muito espaço para a igualdade, para o respeito e para a empatia. Que
tenha muito espaço para o outro.
* Trecho da música Soul Parsifal, da banda Legião Urbana
** Gostava/não gosto mais; era/não sou mais
Mudanças profundas, necessárias e salvadoras.
ResponderExcluirFinal de texto profundo, fechamento com chave de ouro e um convite à reflexão.
Delícia saber que nossos papos e seu ensinamento me fizeram mudar em tanto, também.
Professor, professor Rafael. Tem ideia desse condutor de tantas mudanças em tantos jovens AND idosinhas? Que sorte a nossa!!!
E olha que se passaram 14 dias e te mandei alguns áudios HOJE falando desse nosso processo juntos, mainha!!! MUITO AMOR ENVOLVIDO.
Excluirmuito amor envolvido. Bom que mudamos juntos né? eu acho muito bom!!! Sigamos!!!
ExcluirFilhote, hoje eu ouvi - olha só que coincidência, o episódio 61 do podcast 'estamos bem?". O episódio é: "Aquele sobre autoaceitação com Ju Romano." Confia em mim? Ouça!!!
ResponderExcluirPreciso aprender a gostar de podcast, gente!
Excluirvocê gostaria de muitos, mas entendo porque tenho birra de youtube, like...
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