Muitos, mas sempre comigo junto aos que amo... ou amei

Tema: porta-retratos

Por: Rosana Tibúrcio

Existe uma historinha que muita gente conta para enganar bobo, mas que comigo rola diferente e falo bem a verdade: há muitas coisas na vida das quais eu me arrependo. Porque fiz ou deixei de fazer; que deixei de fazer porque não pude ou apenas não fiz.
Dentre o que deixei de fazer na vida, uma delas é não ter criado a mania de colecionar porta-retratos. Acho digno! Mas todos eles com fotos minhas junto aos que amei e amo.
E essa coleção se modificaria a meu próprio gosto ou em consequência de um desgosto qualquer. Porque eu não ia deixar lá, por exemplo, um porta-retratos de um amigo que rasgou aquela foto que tinha comigo sem eu saber o porquê ou daquela que deixou de ser minha amiga por conta de um "mas", também sem explicação. Ia ter espaço para esse povo não. Fosse qual fosse o passado: excelente, mais ou menos ou bom. E à medida que as antipatias fossem aparecendo os porta-retratos desapareceriam. E seriam substituídos por outros. SOU DESSAS!!!

Certeza, por outro lado, que estaria nessa coleção foto com aquela minha amiga que hoje não fala mais comigo - tem lá suas razões - mas que não deixei de amar. E faria questão que nessa foto tivesse, ao lado, meu nome escritão, porque ela dizia sempre e, gargalhando: nunca vi ninguém gostar tanto de um nome como essa Rosana. Gostarei sempre do meu nome, e dela, também.

Mas só teria foto nos meus porta-retratos de quem eu olhasse e me provocasse boas lembranças. Ou saudade. Não haveria foto alguma de quem eu não gostasse mais ou que me provocasse lembranças ruins: as sofridas ou apenas aquelas chatas, nojentas.

Ressalto que esses porta-retratos sobreviriam a qualquer relação amorosa que eu tivesse: se um porta-retratos provocasse alguma espécie de ciúme ou raiva, despacharia o sujeito ciumento e nunca colocaria uma foto nossa por lá. O lugar desses porta-retratos seria um lugar sagrado e só eu, somente eu, seria dono dele.

Eu teria foto com a turma da queimada e da "vendinha" da rua de onde eu morava quando criança; daquela rainha da primavera do grupo escolar onde estudei e que era, para mim, exemplo de beleza; do meu primeiro namorado, que faria anos hoje, se vivo fosse; do segundo; do terceiro; do quarto; do quinto e sei lá quantos tenho saudade; dos namorados chatos teria porta-retratos não; do homem com quem me casei, pai das minhas filhas; dos pequenos dele, irmãos de minhas filhas; das filhas eu teria aos montes, um por ano, de preferência; de umas poucas colegas do internato; de poucos professores; de colegas do primeiro trabalho e do curso de contabilidade; das colegas de pedagogia e dos colegas dos outros empregos; de meus pais e meus irmãos; dos sobrinhos e afilhados; dos compadres; da Abadia, minha salvadora; de alguns colegas de Direito, principalmente da amiga que vinha estudar comigo todas as tardes; de clientes que ficaram amigos; das amigas mais presentes nos cafés dessa minha casa; dos que conheci na internet, mas só os que realmente me amam e vice-versa; da Paulinha fazendo misto e eu perto zoando dela (hahahahaha doce lembrança); do Taffa me ensinando coisas no computador com aquela doçura e paciência de sempre, mas que acha que tá sério e mete medo; do Limão fazendo abobrinha com milho e cebola e eu garrada nele; do Rafa perto de mim comendo coisas antes da hora, achando que sabe fazer gravuras no micro e eu perto ensinando. Dos que amo, dos que amo muito e que me amam. Muitas fotos. Muitos porta-retratos. Uma vida inteira numa estante para ser revivida quando desse saudade.

Porque como diz Oswaldão: "meu amor, a vida passa num instante e um instante é muito pouco pra sonhar..." ai eternizaria nos porta-retratos. E teria um porta-retratos comigo e ele, o Montenegro, e com o Caetano, e com a musa do Caetano, a Heloisa Chaves, que quero conhecer logo, e outro com a outra Heloisa, a Kacinkisbinuncaseiescrever esse nome, mas que amo e também porque senão ela fica com ciúmes da xará e num pode. E no mais eu contrataria vocês: Laura, Rafa e Marina para limparem esses porta-retratos sempre que aqui viessem. E depois da limpeza tiraríamos uma foto juntos: vocês exaustos, meio sujos, com panim na mão e eu linda, glamourosa, cászunhas vermelhas e esmaltadas com perfeição e cos cabelos limpos sedosos, brancos e brilhantes.


Uma linda quinta-feira para todos vocês meus amores, pois nas quintas há sempre algo diferente no ar e hoje há realidade, longa, cruel; tem nada daqueles nhe-nhe-nhens curtinhos e poéticos de segunda, terça e quarta dessa semana.