terça-feira, 21 de julho de 2020

Atento e forte*

Tema: Minhas noias
Por Rafael Freitas


Apenas mais um dia comum de conversas entre dois amigos que falam sobre tudo, em qualquer hora. Qual a graça de ter muitas noias e não ter com quem dividi-las, não é mesmo minha gente? (Trechos levemente editados. A conversa partiu da influência de movimentos artísticos da contemporaneidade, beleza e experiência estética, movimentos sociais, moda e padrões de beleza e continuou.... rs)

T: Às vezes eu me pego pensando nisso... Mesmo quando vejo um cara extremamente bonito, com um corpo legal, eu não tenho (tanta!) vontade de ter o cara (ou não só o cara), mas meu desejo maior é de ter aquele corpo... Seria isso um enraizamento tão grande no meu inconsciente do que é o padrão que a sociedade espera ou seria apenas uma escolha estética minha "indissociada" de influência (existe isso??)?
R: O último menino que me interessei era bem queer. O Rafael das festas GLS não se permitiria ficar com ele. O Rafael que posta foto com maquiagem drag sim!
T: Então... Eu estava conversando com um cara legal, bem legal, interessante, inteligente, mas notadamente queer, em expressões, posicionamentos e tal. Ficamos, foi bom, mas não espetacular. Uma amizade bacana sairia dali? Sim. um romance? Dificilmente. A questão, ou as questões: seria por que o cara não se encaixa num padrão que eu mesmo estabeleci? Existe esse padrão inconsciente e eu não sei reconhecer? Minhas escolhas revelam não um padrão estabelecido, mas, somente, um gosto estético? Julgar-se-ia o gosto estético? Ou eu resolvi ficar com o menino sabendo que ele não se encaixava nesse padrão para me colocar à prova?
R: Como julgar a tração física, né. Como perceber se o tesão não acontece porque criamos um padrão ou se porque não acontece mesmo? É possível cruzar essa discussão com gênero, valorização do masculino, machismo? Com certeza!
T: Tração física? Tem fórmulas para isso!!! hahahah Não podia perder a piada.
R: NUNCA FUI BOM EM FÍSICA. Que ódio. hahahahahahaha

(PAUSA DRAMÁTICA. RIAM.)

T: [...] eu estava me julgando por isso. Mas não acho justo e nem acho que seja esse o caminho. O primeiro passo é reconhecer essa influência? Tipo... Já era assim e eu entrei no jogo? Mas a gente deveria se forçar a um gosto que não nos atrai para quebrar esse paradigma? Não seria a mesma coisa de forçar ficar com mulher para deixar de ser gay? Viajando léguas, mas é só pra acalorar o debate. Só consigo imaginar isso tudo num podcast.
R: Mas aí vem a desconstrução, né... Só percebendo que ela existe e como ela nos atinge que poderemos ter uma noção de como ela afeta nossas relações. O que não quer dizer que eu tenha que forçar alguma coisa. Porque aí eu deixo de ter a minha liberdade e passo a seguir um padrão de desconstrução que funciona pra alguns, mas não pra mim. Me incomoda muito um grupo que luta pelo respeito às diferenças cobrar que todos daquele grupo tenham o mesmo comportamento com relação à sua identidade de gênero.
T: Que é exatamente meu ponto: desconstrução forçada é desconstrução ou é um mini-mainstream de um grupo?
R: Eu sou um homem gay cis e não tenho o costume de chamar meus amigos pelo feminino. Aí o povo já surta que é heteronormatividade. Não posso me identificar como homem cis? Sou menos gay por isso?
T: Vc nunca seria menos gay, bicha!
R: Quero é ser mais gay!

(PAUSA DRAMÁTICA. RIAM DE NOVO.)

R: Não estou em processo de desconstrução quando reconheço minha identidade de gênero, respeito a de todos e contribuo para dirimir o discurso de ódio?
T: Achei linda essa frase! E concordo em absoluto.
R: Eu quero uma nível de liberdade que é utópico, mas quero.
T: Mas a utopia é o caminho para atingirmos o possível.
R: E eu achei linda essa frase! O tema do Guaraná hoje é noias. Posso postar nossa conversa?
T: Claro que sim!!


* Trecho da música Divino maravilhoso, de Caetano e Gil, que é uma possível tatuagens das muitas que esses amigos querem fazer.

4 comentários:

  1. cara, cês são muito noiados quesse tema. E eu não sou, guardada as devidas proporções? creio que sim.
    Inclusive isso de gay se tratarem de ela já foi tema de alguns áudios que trocamos, né filhote? E você me ensinando: cada um se reconhece como se sente mais confortável; nada de noia.
    Pelo menos em relação às escolhas, né?
    Então... que seja!!!

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  2. minha maior noia pós leitura é

    SERÁ QUE ELES REALMENTE USAM "Julgar-se-ia" NUMA CONVERSA?

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  3. na verdade a maior é que talvez eu ainda não tenha leitura pra essa leitura.. já faz um ep do podcast da Roro sobre esse assunto trazendo mais pro dia a dia esse diálogo pra nois

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