segunda-feira, 18 de abril de 2011

Eu e a Tati

Tema: Um dia de criança

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Daqui consigo ver apenas algumas coisas durante algumas horas do dia. Estou num cesto onde a Tati não mexe mais. Pela manhã vejo ela acordando e meu coração aperta, sabe. Ela não larga aquela novata nem pra dormir e sempre acorda sorrindo e dando muito beijo nela, que nem fazia comigo. Daí a dona Ana vem e abre a janela e eu consigo ver a porta do quarto e aquele cachorro que rasgou meu vestido pela primeira vez vindo lamber a Tati.
Depois disso, ela sai do quarto correndo e vai pro banheiro, eu acho. Pelo menos era assim quando me carregava pra cima e pra baixo e me colocava perto da pia praeu ver ela tentando escovar os dentes sozinha, tão linda.
Durante a manhã ela fica muito aqui no quarto e ainda gosto de ver os desenhos que ela prega do lado da cama. Não consigo ver ela os fazendo, mas escuto bem o barulho dos lápis de cor arrastando forte daquele jeito que ela sempre faz. De vez em quando a Pati, prima dela, vem lhe fazer companhia e quase me atrapalha mais ainda porque gosta de ficar perto do armário aqui do lado e tampa minha visão.
Toda tarde a Maria, ajudante da casa, vem arrumar a bagunça que a Tati faz de manhã. Ela é quem mais nota nossa presença aqui no cesto, não sei se fica com pena da gente ou quer nos levar pros filhos dela. Mas não gosto muito deles, porque sempre ficavam brigando com a Tati e, mesmo ela me deixando aqui quase estática, vou defender ela até.. não sei quando.
Lá pras cinco da tarde a Tati chega e fica contando um monte de caso da escolinha pra Dona Ana, a gente morre de rir dela. Parece que gosta de um dos meninos mais custosos da sala que sempre derruba todas as meninas durante as brincadeiras.
Nesse período do anoitecer, a casa começa a se silenciar e meu coração volta a apertar porque lembro que, mais ou menos nesse horário, é que a Tati me pegava e não soltava até de manhã cedo. Aí eu prefiro fechar os olhos e tentar dormir mais tempo pra não pensar em coisa ruim, assim. Porque quando a senhora Mônica me fez ela prometeu que eu seria muito amada, mas precisava ter sempre pensamentos positivos.
Mas ano que vem, quando a Tati fizer seis anos, deve me doar pra alguma creche como fez com os ursinhos esse ano. E, então, espero encontrar outra pequena que goste tanto de mim quanto a Tati gostava no nosso primeiro ano juntas.
Porque hoje sou só uma velha boneca de pano jogada no cesto dos ex-brinquedos preferidos de uma criança.

17 comentários:

  1. gente que escolhe um tema e na hora de fazer o post não sabe o que escrever.

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  2. uma vez tentei tirar uma foto da minha irmã assim, com as bonecas. mas perdi o filme.
    sim, era de filme.

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  3. mas a velha boneca .. será nova pra alguém e isso é lindo ..
    me comove

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  4. Esse lance de dar vida para o que [aparentemente] é inanimado, me fisga de um jeito espetacular.

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  5. Lembrei de Toy Story, da cowgirl Jessie, que foi abandonada pela criança e depois se juntou aos demais brinquedos do Andy.

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  6. A vida de um brinquedo deve ser tão povoada de momentos de alegria intensa e tristeza, né. Sempre perceber que é amado e depois de algum tempo ser jogado de lado, pra viver tudo de novo com outra criança.

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  7. Por isso é que eu guardo a minha Amanda (tá, ela é descabelada) e minha neca (tá, ela pega monte de poeira), quando mó carinho.

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  8. quando = com - é quetô dormindo sobre o teclado.

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  9. Achei esse texto muito triste e isso pode estragar meu dia.

    Essa Tati é uma ingrata!

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  10. Dona Ana, Mônica, Tati, Pati, Maria... tudo bem, qual a relação desses nomes? Por que a boneca não tem nome?
    O destino dela só poderia ser esse mesmo: um cesto de brinquedos desprezados. Nem certidão ela tem.

    Má!!! Lauratatibernardes má!!!

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  11. Eu queria ser essa boneca sem nome, descansaria no cesto de roupa suja... opppsss, de brinquedo velho.
    Tô exausta. E é só segunda-feira feira feirazzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

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  12. Não posso ir embora sem dizer que adorei os comentários do Taffa, tanto quanto o post de Laurinha.

    Nó, eu não voltei no post do Taffa. Sou uma merdinha...

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  13. Esse lance de dar vida para o que [aparentemente] é inanimado, me fisga de um jeito espetacular. [2]

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  14. É triste, sim. Mas ficou lindo também.

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  15. Tem dias que a gente se sente assim, brinquedo esquecido, né?!

    #drama

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