terça-feira, 10 de julho de 2012

O relógio dos três filhos

Tema: Quatro gerações
Por Rafael Freitas


_ Mas e agora? Quem vai ficar com o relógio amarelo???

O relógio amarelo. Era assim que seu pai chamava um antigo relógio, banhado a ouro, com pulseira de gomos finos que ganhara de seu pai e havia transmitido ao filho do meio como uma relíquia, uma herança de família.

Ele, o filho do meio, sempre notara no pai esse apego às coisas materiais. Não podia se desfazer da cama velha e quebrada porque fora ali que começara seu casamento. Não podia jogar fora aquela camisa, que já estava em trapos, porque a usara no seu noivado. Não podia vender a outra casa porque a construíra com tanto suor, com a ajuda da esposa, e ali criaram os três filhos homens.

Três filhos homens. Que orgulho! E que decepção o pai provara agora ao descobrir [o que para ele era] um desvio, a sem-vergonhice e todas as outras mentiras que teriam sido ditas pelo filho do meio. O que mais se  parecia com ele e com o avô! _ Meu Deus! O nosso nome! O nome da nossa família! Um nome é tudo o que a gente tem! Dissera naquela noite, enquanto o interrogava, querendo saber porque estava naquele carro, num beco suspeito, com outro rapaz.

Uma noite difícil. Por mais que soubesse que não estava sendo fácil para o pai tal descoberta, também não entendia como ele poderia julgá-lo tão mal. Se não estivesse bem resolvido com sua condição, com o que era de fato, e não porque assim escolhera, teria sucumbido diante das acusações, lágrimas e murros do pai na parede e no balcão da cozinha.

E agora, como se não bastasse tanta dor, desenterra a história desse tal relógio! Qual o problema? Seria uma desonra usar um relógio de família? Quem teria que ficar com o relógio amarelo???

Até que ficou claro: o pai escolhera errado o filho que devia presentear. Não era ele, o filho do meio, o merecedor pelo simples fato de que não teria filhos. Estava resolvido: devolveria o relógio, ou entraria em um acordo com o pai sobre qual sobrinho deveria ficar com ele.

O que seu pai não sabia é que seu legado, assim como o do avô, era muito mais que um relógio, as entradas nos cabelos, o formato do nariz ou os lábios finos. Era a boa educação, honestidade, bom-caráter e aquele jeitinho teimoso. Coisas que o filho do meio tinha de sobra e poderia distribuir para muita gente. O que também aconteceria com seus irmãos, e os filhos de seus irmãos, e os filhos dos filhos...

21 comentários:

  1. gente, mais alguém postou com o marcador LGBT além de mim, VITÓRIA!

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  2. fala pro menino ficar relax que depois de um tempo o pai dele vai entender.

    sobre esse tipo de aceitação, o tempo é o maior aliado de todos.

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  3. to sentindo que o meu post da semana passada foi como uma cutucada mesmo para o Sr. Rafael.

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  4. AAALELUIA
    AAALELUIAA
    ALELUIA
    ALELUIA
    ALEELUIA

    [posso ZOMBAR porque faz duas semanas que tô agindo corretamente.]

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  5. ~~SUCUMBIDO


    quem usa essa palavra, além de Samuel Rosa em Formato mínimo

    [ok, ele usa sucumbia]

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  6. mas eu acho que, assim, tradição é tradição.
    tem que devolver o relógio amarelo.

    compre um azul, rapaz.

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  7. importante: formato do nariz grande s ou n

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  8. Olha, de boa... relógio amarelo é feio. Se fosse vermelho.
    Releve. Mas só por isso!!

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  9. Tá achando que é fácil botar filho no mundo e depois descobrir que a geração dele acaba ali?
    Se bem que hoje temos adoção. Mas precisa primeiro achar outro pai à altura dos narizes e lábios finos.

    Eu ri com o "lábios finos". Tinha que dar uma de macho e falar: beiços finos hahah

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  10. Mas olha, isso foi só um fato o que importa é que hoje o pai do lindinho cuti cuti, quando ele viaja e tá pra voltar, deixa na cama bilhetes amorosos e chocolates.

    Vamos combinar que isso é muito, mas muito, mas muito mais bacana do que um simples relógio amarelo.

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  11. LGBT nos marcadores.

    ãhãnnn, narigudinho, senta lá.

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  12. Gente, desculpa!
    Ficou mais pesado do que eu pretendia, né?

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  13. Olha, eu acho que vesti a carapuça do seu post sim, Brant. Por isso postei direitinho.

    #vergonha
    hehe

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  14. GENTE, POR QUE ELA ME CHAMA DE NARIGUDINHO???


    (Por que será, né? rs)

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  15. Percebam que o fato mencionado pela mainha, dos bilhetes e chocolates, denuncia o fator aceitação.

    Como vc disse, Brant: TEMPO!

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