Tema: uma foto um conto
Por Rosana Tibúrcio
A mãe de Freicarrá (menino de origem russa, por isso, nome tão estranho) dera-lhe uma boa educação. Alguns princípios básicos, para alguém bem comportado, foram afirmados como um mantra, desde a infância do garoto: “nunca coma mais que a barriga peça nem beba mais que a bexiga aguente.”
E o menino foi crescendo numa certa normalidade, digamos assim. Nada muito sério ou muito fora do contexto: um peidinho aqui, quando comia porcaria; uma mijadinha no muro da esquina, quando bebia em excesso...
O menino virou homem e achou que não precisava mais ouvir os conselhos da mãe. Ela se aquietava, porque talvez fosse melhor assim.
Porém, naquela noite de uma festa familiar, a mãe percebeu que Freicarrá tinha comido muita costelinha de porco e torresmo e que, na hora dos docinhos, era um cajuzinho atrás do outro, além do copo de cerveja que nunca ficava vazio, a propósito.
A mãe chamou Freicarrá e... "filho, você se lembra do que sempre te disse desde pequenino? Repita comigo, vai: nunca coma mais que a barriga peça nem beba mais que a bexiga aguente”; e ela, ainda, acrescentou: "pare de ficar pulando feito doido na pista de dança, porque seu estômago pode dar um revorteio-cum-tanta-mistura* e isso não vai prestar. E no mais, daqui a pouco vamos embora e de carona... já pensou se precisar descer do carro pra fazer uma ou outra necessidade? Porque dentro dele é que não vai fazer, né Freicarrá???" A paciente mãe do homenzinho já não estava mais tãooo paciente.
Arrááá, que fez Freizinho? Na-da!! Voltou pra pista de dança se achando um Fred Astaire. Queria mais é que a noite se acabasse em torresmo, cerveja, cajuzinho e seu particular show “eu danço muito bem, eu sou muito engraçado, todos riem comigo... tá tudo ótimo. Parar pra quê? A vida é curta e eu sou muito booommmm”
De vez em quando ele sentia algo apertando sua barriga, mas pensou: é a calça que está justa, dei uma engordadinha nos últimos tempos. É... faz sentido: a calça justa. Tá!!!!!!
A festa acabou e Freicarrá se aquietou no carro, bem no meio da parte de trás junto a outras três pessoas, nenhuma delas mais magra que ele. Carro pequeno... imaginem só como espremido ficou pra todos, inclusive pra barriga do sujeito que parecia ter vida própria, naquela noite.
Não deu outra. Com a maior cara lavada, já que ainda meio tontinho, pediu: "paraliperdaquelimuroquequerumijájájá."
Dona mãe de Freicarrá, se pudesse, matava a cria... mas se conteve.
No que Freirim desceu do carro, nem bem abriu a braguilha (pra calça social e chique a gente aqui não fala ziper, certo?) e puummtruuummrumm... todos ouviram um estrondo. É que o menino-homem, se achando em casa, resolveu, além da tal mijada ridícula, soltar um punzim de nada. Que mal haveria? Alguém iria contrariar o sujeito? Nunca!!!
No que todos olharam na direção do bombardeio perceberam que o fundilho da calça de Freicarrá havia rasgado: de cabo a rabo. Alguém até disse: “nó, o barulho é da calça que rasgou de cabo a rabo."
Um dos “amigos” achou por bem tirar uma foto daquela cena que poderia ser um dia usada em qualquer blog da vida ou servir de prova daquele vexame, já que ele era dado a esquecer coisas que fazia quando muito comibebia.
A única aliviada da história era a mãe de Freicarrá, que suspirou e disse: “aí que alívio”.Alguém falou: "tadinho do Freizim, por que a senhora está aliviada? Quando ele entender o que se passou, vai ficar envergonhado." E ela, muito séria e grata por todos fazerem de conta que também acreditavam que aquele estrondo era só do rasgado da calça, disse: "vergonha? vergonha nada, hoje ele tá usando cueca, senão vocês presenciariam o triste desfecho de uma calça rasgada de cabo a rabo, aí sim, seria muita vergonha..."
Até hoje, Freicarrá nega que esta foto é dele. Sempre diz: é uma montagem, eu não dei esse vexame, querem acabar comigo!!!
Dó!
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Uma linda quinta-feira para todos vocês, minhas gentes, pois nas quintas há sempre algo diferente no ar... mas não, não, isso não... hahaha
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*a mãe de Freicarrá se referia não só à comida e bebida que ele havia ingerido, como também, à pulação dele na pista de dança que, obviamente, deixaria aquelas coisas todas muito mais misturadas...