terça-feira, 23 de maio de 2017

Dramas do sucesso, mundo particular*

Tema: Um álbum, um conto **
Por Rafael Freitas (com participação especial de Meio Desligado, do Kid Abelha)



Deus é testemunha.

Alice, sempre tão sincera, sempre esquecendo-se do nosso amor, partiu sem deixar nem mesmo um bilhete curto.

Gosto de ser cruel, é verdade. Nas nossas brigas, era capaz de chorar, ser ridículo até não aguentar. Mas tudo era pra chamar sua atenção.

Como eu quero voltar no tempo! Se este fosse um desejo realizável, faria tudo diferente: seríamos cada um por si, ela por mim e mais nada.

Por que não eu? Não sou perfeito, mas quem é? Digo isso com a cara mais lavada enquanto ela, provavelmente, cai no sofá, vinho à beça na cabeça... Eu que sei com quem poderia estar. De ciúmes, eu me viro do avesso.

Seu espião veio me procurar. Sim, ela contratou um espião para me bisbilhotar. Não entendi o porquê. De repente tornou-se ciumenta ou era apenas precaução? Ou mais um viés daquela sua personalidade controladora?

Eu tive um sonho com ela. Eu jogava meu corpo em cima do seu e ela me dizia: _ É o que devemos fazer, não temos que ter medo.

O beijo parecia real. A língua, a saliva, os dentes. Mas meus olhos abriram. O telefone tocava sem parar.

Cristina. Só podia ser Cristina. Problemas no escritório, precisavam de mim e era urgente. Desci as escadas correndo, ajeitando a camisa.

No meio da rua, vejo uma moça que passa fazendo cara de santa. Ela me faz lembrar de Alice, aquele nariz empinado desafiador, mas cativante; aquela sua postura de quem se basta sem sentir nada.

Nada por mim nem por ninguém. O resto do dia pensei em Alice. À noite, já em casa, fui perseguido por lembranças que me fizeram perceber que ela não é capaz de cuidar do que possui. Certa vez, sorriu e me propôs que eu lhe deixasse em paz. Me disse vá e eu não fui. Como já estava decidida, me deixou sem levar nem mesmo seus livros, CDs e DVDs favoritos.

Grand Hotel, Casablanca, E o vento levou.  Os romances empilhados na estante me fazem refletir... Qual o segredo da felicidade? Será preciso ficar só pra se viver?

Solidão, que nada, concluo. Viver é bom! Com o tempo um novo amor aparece. Então uma melodia entra pela janela do quarto.

Canário do reino cantando em algum lugar. Na gaiola ou na mata, ele não deixa de cantar. Logo entendo. Ah, essa nossa vida cheia de metáforas! Então sinto alegria e um desejo puro e verdadeiro: eu quero que o mundo inteiro se sinta feliz.


* Trecho de Como eu quero.
** Escolha um álbum e utilize cada música dele para iniciar um parágrafo de seu conto. Meio desligado foi escolhido por ser um dos primeiros CDs que comprei, há uns 20 anos, e ainda ouço sem pular nem uma faixa!


17 comentários:

  1. eu amo essas músicas demais: nada por mim, grand hotel... eu amo grand hotel. amo quase todas. delícia de post

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  2. sdds paulinha toller que jamais envelhece

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  3. "eu me atirava nua pra te daaaaar"

    risos eternos

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  4. Respostas
    1. do eu me atirava nua pra te dar. Eu ri de hihihihi e achei que tinha perguntado, mas não.. affe

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    2. ce num lembra desse caso roro?

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    3. O Marcelo, meu irmão, cantava desse jeito, mainha. Mas não como uma paródia. Ele acreditava realmente que a letra era assim! hahahahah

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    4. ahhhhhhhhhhh genteeeeee!!! de fato imaginei que pudesse ser algo do tipo meu ia i aôô... mas tinha me esquecido de quem, como era e tal. AFFE!

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  5. agora sim.
    que nem com mustapha, Cristina me fez rir um pouco

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  6. O QUE SEI é que houve um tempo em que eu tinha rejeição ao "hummm, eu quero você, como eu quero..."creditam? E confesso, também, que não conheço esse álbum por completo e penso que prejuízo foi/é meu, porque esse povo era bom demais. "Kid abelha e os abóboras selvagens" quem lembra?

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