Tema: Banco
Por Laura Reis
Acabara de pousar em sua nova cidade. Ficaria ali tempo
suficiente para aprender novos costumes, aperfeiçoar o sotaque há muito
perdido, conhecer gente nova, conhecer ainda mais gente nova, sentir uma
saudade danada do que deixaria para trás e se cansar mais uma vez de todo
aquele “novo de novo” que tanto buscou.
Depois de mal falar o homem que andava calmo demais para um
centro de cidade tão movimentado e observar a moça bonita sorrir enquanto
olhava o celular, sentou-se no primeiro banco que avistara, assim que pisou na
praça. Do outro lado, um menino olhando para os próprios sapatos, aparentemente
muito concentrado em alguma questão ingenuamente filosófica para sua pouca
idade.
Lembrou-se que anos atrás, lá em sua cidade, havia sido
interrompido por uma senhora de idade, num momento tal qual aquele menino se
encontrava. A velhinha lhe dizia para correr atrás dos pombos e esperar que
eles voltassem para então correr atrás mais uma vez e se divertir com isso
mesmo, em vez de ficar ali estagnado. Hoje se sentia como aquela senhora:
urgente em fazer o pobre menino cair em si e entender de uma vez por todas que
pensar demais pode nos fazer viver de menos.
Com meio segundo de pensamento, optou na verdade por não
interferir naquele momento que, mesmo ainda não parecendo, com certeza deveria
fazer parte de algum importante processo de formação de ideia da pequena mente
do menino pensante. Mas antes de se dar conta, fora interrompido por um jovem
senhor que cutucou a criança enquanto esbravejava um “Vá brincar, moleque!”.
Certas coisas nunca mudam de endereço, pensou. Que venham
novos velhos ensinamentos, então.
"e entender de uma vez por todas que pensar demais pode nos fazer viver de menos."
ResponderExcluirGENTE