Tema: conto continuado
Por: Rosana Tibúrcio
Ouviu de longe outro toque do celular. Não, não era o celular,
era o telefone fixo. E quem hoje em dia tem telefone fixo? Há quantos anos tentava se desapegar daquele aparelho? Perdeu as contas. Não do aparelho, no caso, seu apego era com o número do telefone que tinha cinco cincos no final. Com
aparelhos nunca se apegara, já tivera dos cinzinhas comuns, de gatinho vermelho e
o atual era um pretinho vintage, maravilhoso. Pode ser que se apegasse àquele atual aparelho. Continuou ouvindo o som do telefone e seu braço não conseguia alcança-lo.
Afinal, dormia na parte de cima do beliche. Mais dormindo do que acordado, tentou novamente atender ao telefone e se viu espatifando no chão.
Acordou desesperado, olhou para o criado-mudo e, em cima
dele, havia um relógio que marcava 16 horas e um jarrinho de flores silvestres que ganhara ontem do seu crush. Aquele
lindo que, em poucas horas, descobriu a sua ligação com o passado, seu medo
de desapegar das lembranças ruins da vida, retratada na única foto da sua infância de beliches, dos caldos ralos de pés de galinha, das ruindades adultas. Aquele lindo que lhe apresentou ao novo
mundo do instagram e que, antes de dormir, lhe desejou um boa-noite carinhoso, via
mensagem direta.
Sorrindo percebeu que tivera um pesadelo.
Rasgou a foto!
Rasgou a foto!
Um restinho de quinta-feira pra todos vocês, meus amores, pois nas quintas sempre tem algo diferente no ar e hoje temos uma viajada legal... Aproveitem. Ou não!!!