quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Bola de neve

Tema: monólogo
Por: Rosana Tibúrcio


- Chega de conversar comigo mesma, é bem hora de deixar tudo claro, chega.
- Mas nunca impedi que me falasse nada.
- Nunca disse, mas sinto esse olhar que reprime minhas palavras e faz com que eu as engula goela abaixo. Sem água.
- Diga então o que quer dizer, aproveite que estou calmo.
- Calmo, calmo, sei bem o que é calmo. Mas convenhamos eu não me casei com um carrasco, nem com um chefe e muito menos com um pai repressor... eu me casei...
- Tá tudo errado. Lá vem você de novo com essa ladainha. E depois quer que eu te escute. Sei essa fita de cor; de trás pra frente e salteada. Mude de fita, de disco, de dvd, de pendrive, mas mude, essa mesmice é que me faz perder a paciência e não querer ouvir suas lamúrias.
- Mas você sabe o que quero te dizer hoje? Aposto que não sabe.
- Posso não saber o início da conversa, mas o final escrevo, guardo no pote e te mostro depois.
- Mas há quanto tempo não temos uma DR e você pensando que vou dizer a mesma coisa. Nunca reparou meu silêncio nesses últimos, sei lá, cinco anos?
- Pensando bem...
Ela ouve o barulho do portão, da porta, ergue a cabeça a tempo de vê-lo tirando o paletó, jogando a pasta no chão e se esticando no sofá.
- Amor, o jantar estará na mesa em dez minutinhos.
Ergue a tampa da panela e pensa: amanhã crio coragem, digo para ele tudo que tá entalado aqui na goela, como uma bola de neve. Digo tudo, termino com tudo, mas com água que é pra regar o restinho dos minutos dessa vida seca que dividia com ele. E vou...


Uma linda quinta-feira para todos vocês meus amores, porque nas quintas há sempre algo diferente no ar e hoje há um conselhinho amoroso: não formem bolas de neves nos relacionamentos de vocês... porque o bolo começa na goela e para no estômago. E num é bão não!!!

7 comentários:

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