sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Caso

Tema: não pode faltar no meu casamento
Por Taffa


Apressado, abotoou o paletó e pegou um cravo branco e delicado que estava num copo d’água próximo ao espelho. O interfone tocou novamente e ele entoou um sonoro “já vou” – que, obviamente, nunca foi ouvido por quem estava do lado de fora. Em questão de segundos deu uma última olhada no próprio reflexo e desceu as escadas, ainda segurando a flor.

Na calçada se deparou com seus dois grandes amigos do colégio, ambos presentes naquele dia tão especial. Conferiu os bolsos e encontrou as chaves do carro e o celular piscando um led azul que significava mensagem nova. Repassou as chaves pro colega motorista da vez e já teve a atenção chamada pelo outro, pois estavam atrasados e a cerimônia começaria em menos de meia hora.

Todos dentro do carro, diversas ruas no trajeto e nenhum semáforo fechado. “Dia de sorte”, pensou, assim que estacionaram numa viela próxima à igreja e entraram pela porta que dava na sacristia. Os assentos estavam quase totalmente ocupados pelos convidados, flores brancas e tecidos leves decoravam todo o salão e, lá no fundo, próxima a uma grande e velha cruz, uma vela de chama dourada queimava vagarosamente.

Antes de sua entrada, acenou para uma tia e pediu para que colocasse o cravo em sua lapela. Precisava de mãos femininas pra realizar um ato tão delicado e, em poucos segundos, ajeitou pela última vez o terno que agora se mostrava bem mais destacado. Sentiu uma pontada no bolso interno do paletó e presumiu que fossem aqueles papelões de enchimento que esculturam o corpo masculino. Ouviu seu nome, escutou a música e logo entrou de mãos dadas com sua mãe, encontrando seu pai, sogra e padrinhos já os aguardando nas primeiras fileiras.

Foi quando se pôs de frente para todos, aguardando o grande momento. Lembrou-se que o celular estava no bolso e discretamente retirou-o para olhar de quem era aquela tal mensagem de antes. O número era desconhecido e as palavras apenas diziam “olhe em seu bolso do paletó”. Imediatamente enfiou a mão e percebeu que o que antes o havia espetado não era enchimento, mas um broche que segurava um papel embolado. O acessório ele já conhecia, pois era um presente que havia dado. Num movimento abriu o embrulho e encontrou – ao mesmo tempo em que deixou cair sem querer um anel que estava lá dentro – um bilhete escrito às pressas com tinta de caneta vermelha:

“Você realmente se preocupou com tudo: decoração, convidados, festa... Escolheu cada guardanapo e até mesmo o que nós dois usaríamos neste dia. Pena que, tentando me trazer pra perto, acabou me deixando muito mais longe. Um casamento é feito do presente de dois; do futuro de ambos; de decisões conjuntas. O que se escolhe para as festas são detalhes e, nessa multidão de decisões tomadas sozinhas, acho que uma peça foi esquecida e faltou para fechar seu casamento perfeito. Adeus.”

9 comentários:

  1. belo texto. Isso sim é um babado e confusão, imagine também a gritaria...

    Acho que esse texto está entre os melhores, se não for o melhor, já feito pelo Taffarel.

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  2. Quem comeu ou bebeu o comentário que havia aqui de uma Dayane num sei das quantas?
    Por quê?
    Grata!!

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  3. Fiquei imaginando a trilha sonora escolhida.

    Se era algo do tipo "canções que marcaram nossos momentos", marcaram mesmo, né. rs

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