sexta-feira, 3 de maio de 2013

Sobre felinos e caninos

Tema livre
Por Taffa

Greek Animal Rescue

Um ser... "sublime". Era assim que aquele gato se intitulava. Na verdade, admito, ele era um bicho um tanto incomum. Possuía traços suaves e rudes ao mesmo tempo, combinando patas e coxas grossas com uma pelagem densa e macia, colorada num tom excêntrico, meio indistinguível, nem loiro, nem castanho. O tal gato era um danado. Intenso que só. Sua maior característica, por mais controversa que fosse, o tornava o oposto da discrição felina que podia ser observada nos demais da sua laia. Ele era vivaz, ligado no 220, fazendo jus àquela lei de viver cada momento como se fosse o último; todavia, acabava se mostrando um tanto desatento, meio aéreo e desajeitado, ou, vai saber, apenas fingia que era assim.

Do outro lado da rua onde morava, vivia um cachorro conhecido pelo seu jeito mal-encarado. Enquanto os demais cães brincavam animadamente pelas calçadas, ele preferia ficar quieto, sentado, sempre meditando e imerso em seus pensamentos, como se observasse e analisasse cada um dos outros animais do lugar. Vez ou outra ele se levantava, dava umas voltas e latia uns bons papos com alguns cães e gatos amigos, mas sempre retornava ao seu posto de esfinge, protegendo os domínios de todos os animais daquela rua.

O cachorro era grandalhão, de cara feia e facilmente distinguível por causa dos seus pelos grisalhos e desgrenhados. No fundo, aquele animal não era ruim, apenas havia passado por algumas situações na vida que acabaram moldando seus traços em algo mais sério e ponderado. O interessante era que ele, mesmo sendo um cão, acabava tendo mais amigos felinos, coisa que nem ele sabia explicar o porquê; enquanto o gato, serelepe que só, adorava ficar brincando com os outros cães – e quase sempre ganhando, qualquer passatempo que fosse.

Certo dia, o gato encucou que o cachorro deveria viver mais, então passou a se inteirar dos seus papos enquanto o chamava para passear pela avenida. O cão, a princípio, recuou, mas, após uma série de tentativas, acabou cedendo às investidas do felino para entender quais eram suas intenções. Tal foi sua surpresa quando o gato o mostrou que, além daquela avenida, havia dezenas – se não centenas – de outras espalhadas pela cidade. Junto a ele o cão viu, pela primeira vez, as luzes dos faróis dos caminhões que passavam rapidamente pela rodovia. Conheceu, dentre outras coisas, a vida fora dos limites do bairro, passando por diversas estradas de chão, vielas escuras e locais improvisados, chegando à linha do mesmo horizonte que antes ele apenas mirava pensativo.

O cachorro, por sua vez, mostrou ao gato que tudo aquilo também era um assunto de seu domínio, mesmo que mais pro lado teórico. Falou sobre a vida, o universo e o tempo como se fossem uma coisa só. Contou pra ele sobre suas experiências e defendeu seus pontos de vista, admirando-se ao ver que o gato, por mais aluado que parecesse, possuía um estilo próprio de pensamento, com suas filosofias e sólidas convicções.

Desde então, ambos passaram a ser vistos juntos por aí. Um meio que preenchendo no outro aquela lacuna que antes existia. O cão parou de apenas observar e passou a viver toda a vida que existia diante de seus olhos; já o gato, antes tão leviano e contraditório, aprendeu a meditar e enxergar na ponderação um caminho que antes era desprezado. O que aqueles dois não sabiam, ou talvez fingissem não saber, era que se somavam, formando um todo homogêneo bem maior que as duas partes separadas. Aquele gato de coração grande e atitudes desajeitadas era, em essência, um cachorro no corpo errado; enquanto o cão, em contrapartida, possuía uma alma de gato.

15 comentários:

  1. Um mês depois, eis que o Guaranete da sexta aparece!

    ResponderExcluir
  2. Um beijo pra quem não vier brigar comigo.

    ResponderExcluir
  3. Que fofis... que declaração mais fofis!!

    ResponderExcluir
  4. Vou ter que explicar, de novo, que esse cachorro não tem cara de mau? Ele só acha que tem?

    ResponderExcluir
  5. Então, esse gato era safado?
    Tenho mais medo de gatos que de cachorro.

    Gato faz mais estrago.

    ResponderExcluir
  6. O gato e o cachorro, casal do século XXI, viveram felizes para sempre.

    Miau, au au... Au Au uaiM!!

    ResponderExcluir
  7. Quem arruma a bagunça do gato?
    Quem faz comida pro cachorro?

    Oinnn!!

    ResponderExcluir
  8. Que lindo... nao dou conta de falar nada... o gato, vai amar um pouco, o tempo todo, o cachorrooo... felizzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

    ResponderExcluir
  9. "Aquele gato de coração grande e atitudes desajeitadas era, em essência, um cachorro no corpo errado; enquanto o cão, em contrapartida, possuía uma alma de gato."

    Isso é o que eu chamo de fechar com chave de ouro!

    ResponderExcluir
  10. gente eu já falei que esse texto foi só amor

    ResponderExcluir
  11. adorei e queria ter escrito proceis ah nem

    ResponderExcluir

Sinta-se em casa. Sente-se conosco,tome um guaraná e comente o que você quiser e depois, aguente!!! hihihi