Tema: Carta para alguém que amo
Por: Taffa
O nosso relacionamento já foi bem melhor, é verdade. Lembro-me de quando brincávamos e passeávamos a esmo, apenas para aproveitar os bons momentos daqueles dias, numa época em que nos divertíamos com coisas simples e nos entendíamos através de sorrisos sinceros.Seus olhos – sempre tão azuis – me aconselhavam com uma serenidade incrível e seus cabelos – ainda cheios e escuros – contrastavam suavemente com o tom da pele clara que eu enxergava com meus olhos de criança arteira e inquieta: um pingo de gente que tanto deu trabalho durante a primeira fase da vida.
Eu me recordo que fomos comparsas. Um piscar de olhos ou movimento de sobrancelhas iniciava toda a brincadeira. Caronas durante as primeiras séries escolares fixavam o itinerário dos dias e insônias por causa de um filho que dormia na cama dos pais marcavam a rotina das noites.
Tombos, machucados e hospitais: era assim que meus dias discorriam. Afinal de contas, de onde mais surgiriam tantas marcas e cicatrizes que hoje tenho espalhadas por um corpo que – convenhamos – mais parece uma colcha de retalhos?
Assim fechou-se um passado. Não tão próximo e nem distante. Que marcou um pedaço das nossas vidas, que mais pareceram um daqueles contos fantasiosos tirados dos livros onde os animais conversavam com os homens e os garotos – caso quisessem – podiam até mesmo voar.
Então vieram as novas escolas, as grandes mudanças e, por fim, a faculdade. Perspectivas diferentes, num corpo que ansiava por experiências.
Foi quando começaram as brigas – cada vez mais ríspidas. Nossos egos bateram de frente e eu pude ver, pela primeira vez, a sua parcialidade: tão inflexível perante os meus pontos de vista.
Discutimos bastante e, aliás, ainda o fazemos. Nossas opiniões são tão opostas que algumas vezes já me peguei pensando se algum dia iremos concordar em algum assunto qualquer. A sua severidade me trouxe desconforto e quando decidi te contar meus segredos, preferi os omitir, por medo de não saber qual seria a sua reação.
Aprendi sobre mim da melhor maneira possível: através da precaução. Certifiquei minhas ações e só dei um passo inicial nesse mundo quando tive a certeza de que responderia pelos meus atos, podendo erguer o peito e enfrentar prontamente quaisquer pessoas que se opusessem a mim. Eu já não tenho mais medo e meu receio, antes tão desmedido, já deu lugar a uma porção abundante de confiança.
Hoje, enquanto repenso o que já te disse e o que deixei de falar nestes anos, não me sinto triste e tampouco amargurado. Sei que tenho meus arrependimentos, mas meus erros – humanos como os de qualquer outro – devem ter sido perdoados com o passar do tempo em que vivemos juntos. Eu já me culpei tanto por não ter seguido os caminhos que você havia pré-estabelecido pra mim que cheguei a imaginar que a minha razão única da vida era ter nascido para te confrontar, mas percebi que tudo isso era uma perspectiva errada minha: o motivo de tantas brigas e desentendimentos era o fato de eu ser exatamente igual a você.
Eu demorei vinte e dois anos pra te entender, pai. E nesse meio tempo eu sei que tivemos nossos altos e baixos. Portanto, eu quero levantar a bandeira branca e desejar paz para nós. Não com o intuito de me render ou dizer que perdi a guerra, porque essa nunca aconteceu. Quero apenas que me dê um abraço apertado, um caloroso sorriso e me diga como foi o seu dia; porque, meu velho, nós temos muito que conversar. E a primeira coisa que eu preciso que saiba é que eu não quero mais me perder de você.
[Carta originalmente postada nos meus Instantes.]
Boa tarde, guaranetes!
ResponderExcluirDesculpem-me pela demora!
Esta carta foi escrita num fôlego só. Depois a imprimi e a entreguei para meu pai.
ResponderExcluirFoi um momento único na minha vida.
Abraço, bom final de semana!
ResponderExcluirMe identifiquuei contigo porque vivi exatamente isso com meu pai... Li duas vezes. Foi como se eu tivesse escrito. Grande abraço!
ResponderExcluirOi Taffa! Que bom que você entregou pro seu pai. Imagino o que ele deva ter sentido ao lê-la.
ResponderExcluirBela carta. Bj grande.
Que cuti cuti, que desprendimento.
ResponderExcluirNão saberia escrever uma carta dessas.
Não teria essa coragem. Parabéns!
Estranho, não li essa carta no Instantes... sabia que o ideal era aqui.
ResponderExcluirNada justifica distanciamento entre pais e filhos, atribuo isso ao fato de que pensamos meio assim: ah, a pessoa tá perto e tanto faz, uma hora as coisas se ajeitam.
ResponderExcluirPenso sempre o contrário disso e luto pra ser diferente: justamente porque é de minha família, que eu preciso me esforçar mais.
Os da rua que se danem... se é que alguém precise se danar.
Tá, fiz exatamente o que detesto, comentei de mim em post alheio.
ResponderExcluirMas sabe cumé? Num sou perfeita.
Voltando aos comentários do post... hehehe
ResponderExcluirTaffa, colcha de retalhos, é???
adoUUUro!!
Concordo com a Helô!
ResponderExcluirTaffa, o arteiro
ResponderExcluirNossa Taffa que lindo.
ResponderExcluirJá escrevi uma pro meu pai, mas não tive coragem de entregar.
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Colcha de retalhos? ... ai ai ai
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vou te ligar agora .. ok?
beijocas
gente.. como assim?
ResponderExcluirodeio minha falta de tempo e de organização... não li isso no instantes.
ResponderExcluirmas também não achei o fim do mundo, porque daí dei pra ler aqui com a emoção de uma... primeira vez?
ResponderExcluircarta lindíssima.
ResponderExcluirtambém merece ser entregue.
não conheço circunstâncias nem nada e, talvez por ter esse ponto de vista eu tenha essa opinião.
esse moço da foto se parece com você.
ResponderExcluirgente que não ve os comentarios...
ResponderExcluir[tipo.. a carta ja foi entregue ]
Eu li no Instantes.
ResponderExcluirE me emocionei nas duas vezes.
Cê bem que poderia contar como foi a reação do seu pai.
ResponderExcluirPensei em escrever pro meu também nessa semana. Mas fica pra uma próxima.
ResponderExcluirAh, claro! Chorei no final.
ResponderExcluir#EMOtivo
oooooo;;;
ResponderExcluiremocionei!!!
Que relação linda com o pai taffarel..
Homem pai é tão sem noção, eu falo isso por conhecer a causa, pq os pais de alunos são tudo estranhos..
e parece que seu pai tinha um que diferente..
emocionei de verdade..
eu tb tenho uma relação bem estreita com meu pai!!