terça-feira, 15 de novembro de 2016

Bem prazenteira pra passar a cozinheira*

Tema: Comida
Por Rafael Freitas

Às vezes olho para ela e pergunto: _Como é que a senhora consegue fazer arroz pra quatro ou pra vinte pessoas com o mesmo gosto? Ela só responde que deve ser a prática.

Fico pensando que cozinhar tem uma coisa de magia, de alquimia. E, nas minhas elucubrações, vou imaginando tudo de si que uma cozinheira, ou um cozinheiro, acrescenta ao prato que vai preparando, mas que não estava ali naquela receita: dedicação, carinho, cuidado, amor. Ou até mesmo uma pitada de preocupação ou uma lágrima que escapa pela bochecha e vai salgar a carne. Ela, minha mãe, deve achar tudo isso uma grande bobagem.

Dona Edna, a minha Gordinha, diz que não gosta de cozinhar. Mas lá vem ela chegando com mais uma, duas, três revistinhas de receitas de uma banca qualquer. Bolos, salgados e tortas que ela ainda vai experimentar um dia, ah, vai.

Não entendo essa sua história de não gostar de cozinhar já que preguiça de fogão ela não tem. Se tem visita, então, a casa pode até estar revirada, mas a preocupação é o cardápio de todos os dias. Aí o filho mais novo liga pedindo lasanha, o mais velho sempre pedia os pães recheados com carne moída, um neto que quer o "pastel amarelinho"** e o outro que quer filé de peixe ou então arroz, feijão, linguiça e bacon. Tem o pudim de leite condensado para a sobremesa, não falta salada para a nora, o arroz e o feijão que são sagrados para o marido. A manga picada para a salada de rúcula, o abacaxi em rodelas para o lombo, a feijoada, o filé de frango à milanesa, o bife acebolado molinho e suculento que não tem segredo, ela jura, o doce de leite, o doce de abacaxi com batata doce, o doce de coco que só é gostoso se ralar o coco fruta, como ela diz, o sequilho, a rosquinha de nata, o forrobodó, o bolo de todos os aniversários da família e, mais recentemente, as massas de pizza de todos os aniversários da família.

Ela só não aprendeu, ainda, a fazer molho branco. E, para ser bem honesto, seu estrogonofe é meio engraçado. Mas ela sabe que é um dos meus pratos preferidos e faz especialmente para mim. E, para mim, tem o sabor do melhor estrogonofe do mundo.



* Trecho da música A porta, de Vinícius de Moraes.
** Pastel de farinha de milho, que alguns dizem ser uma das especialidades da minha mãe.

4 comentários:

  1. acho que uma mãe pode ficar com ciúme da outra hein
    esse negóc de estrogonofe
    hm

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  2. essa coisa de cozinhas pra poucas e muitas pessoas me assusta um pouco.
    de modo que: só sei cozinhar pra mim.

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  3. Olha, não vou ficar com ciúmes da Edna - sai pra lá que meu estrogonofe é melhor - porque não sei fazer a metade da metade do que ela faz e jamais atenderia tanta gente assim. Um prato de cada vez e olha lá.

    Sua mamis é muito maravilhosa, filhote... Aproveita muitoooooo!!

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