Tema: Voluntariado
Por Rafael Freitas
_ Onde você se imagina daqui a
dez anos? O que estará fazendo? Quais são os planos?
Se você ainda não parou para
pensar nas respostas, eu já. E sempre tenho o mesmo desejo, superior a bens
materiais ou à ideia de felicidade enquanto uma meta a ser alcançada: quero ser
bom.
O bom que quero ser implica ter um
coração leve e limpo de mágoas passadas, calmo e que saiba olhar para o outro.
Não o outro amigo, conhecido. Aí fica fácil; é o mínimo que podemos fazer. Difícil
é ter bondade e compaixão pelo irmão anônimo.
Qual foi a última vez que você
visitou um doente ou os velhinhos no asilo? Candidatou-se como voluntário na APAE
ou em outro projeto social? Separou umas roupas e doou naquela campanha do
agasalho? Pois é. Faz tempo.
E olha que tenho um bom exemplo
para seguir: Marcelo. Meu irmão mais velho não era do tipo que só ficou bom
porque morreu, sabem? Ele era bom mesmo. Do tipo que dava dinheiro para o
bêbado que pede uns trocados para comprar um pão sem se importar se ele saciaria
a fome ou outro vício. No seu velório, um desses parou do meu lado e disse que
o Marcelo sempre lhe dava comida, dinheiro, até um cachorro quente. Teve gente
que disse que era mentira. Penso que não: era a cara do Marcelo fazer isso.
Depois de tudo, fiquei pensando
que não dá para passar por essa perda sem mudar pelo menos um pouquinho, talvez
um bocadinho mais tolerante, ser um pouco parecido com ele.
Na correria dos nossos dias, no
aperto das contas no final do mês, na pirraça que a gente faz quando alguém nos
chateia, acabamos esquecendo dessa coisa toda que parece autoajuda. A intenção
não é o drama, gente. Juro. É um lembrete, um post-it que esquecemos de colocar
no monitor ou na geladeira.
Porque o tempo passa e tenho que
dar conta das respostas para aquelas perguntas ali em cima. Não que eu queira
ser santo. Só quero ser bom.
* "E eu apenas sou um a mais, um a mais, a falar dessa dor, a nossa dor" - Trecho da canção Milagre dos Peixes, de Milton Nascimento e Fernando Brant