terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

A estranha mania de ter fé na vida *

Tema: Quem me inspira
Por Rafael Freitas


Você conhece a Maria Antônia?
Ela também atende por Dona Antônia, ou Tonha ou Nega para os mais íntimos.

Talvez você tenha ouvido falar da sua comida gostosa. Ou do melhor brigadeiro que você poderá experimentar na vida. Eu a apresento como "minha mãe de Pouso Alegre".

Nos conhecemos há quinze anos. Ela é a mãe do André, o Arrocha, que conheci na faculdade e se tornou um dos meus melhores amigos. Na primeira vez que me viu, eu ia em direção à sua casa, andando pelo meio da rua e acenando para ela, que estava na calçada. Eu usava um tênis vermelho. E ela me achou esquisito. Tendo conhecido o caminho, não deixei de frequentar sua casa nunca mais.

Eu já não era o amigo do Arrocha, mas da família inteira. Passei a ser apresentado como "o filho da Borda". E fomos construindo nossa amizade com muita conversa.

Houve um tempo em que o Arrocha trabalhava até tarde nas sextas-feiras e ficávamos esperando-o chegar. Era nosso momento para falar sobre banalidades ou confidências. Coisas da infância e tudo o que ela aprendeu em Três Pontas com a dona Odete, os doces de goiaba nos caixotes de madeira, o vestido verde bordado. Coisas da vida de casada, de mãe, os dias de aperto, de desespero, da doença do esposo, o Seu Vicente. Quantas vezes a vi preparar a sopa dele com tanta preocupação e carinho. Coisas de uma integridade ímpar.

E aí vem o ensinamento: a casa podia estar caindo, o coração apertado, mas como ela mesma diz: _ Eu tava no salto.

Nos sábados de manhã, ela liga o rádio na estação que é "100% sertaneja". Rimos das letras esquisitas ou dançamos no meio da cozinha. Quando sentamos na sala, um em cada poltrona, ameaço que vou lhe fazer cócegas. Às vezes não fico só na ameaça. Ela assusta, fica brava, e eu a aperto bastante, com calor e tudo.

São quinze anos partilhando conquistas e sofrendo as perdas. Em ambos os casos, era só olhar para o lado que estávamos ali, um pelo outro. E diante de tudo, do que presenciei ou soube nas nossas confidências, olhando a família incrível que ela criou, vendo-a ali irritada com o cabelo que não ficou bom no último corte, planejando alguma coisa que quer fazer na casa ou desfilando uma roupa nova para mostrar como ficou, concluo: tem que ser muito forte para ter alegria depois de ter passado por tanta coisa nessa vida.

Não tem dor no joelho que a derrube. A peteca não cai. Se você não a conhece, saiba que seu nome completo é Maria Antônia Inácia de Souza Rocha. Rocha é o sobrenome de casada. Mas, olha: lhe cai muito bem.


* Da canção Maria Maria, de Milton Nascimento.

7 comentários:

  1. Feliz demais por ter conhecido essa família mais linda. Por ter comido a comida delícia dela e por sentir vontade de voltar.

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  2. Que post lindo! Muito lindo. Sou muito fã de dona Antônia cuti cuti...

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  3. Além do post ser lindo, lindo é saber que tão amado você é. Mãe de Pouso, mãe de Patos. Família grande a sua que cabe no coração grande que você tem.

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  4. Rafa, você é ótimo! Quantas saudades tenho de você pessoa! Vocês são lindos, esta aí a alegria da vida, o encontro de almas que a gente se depara. Um abraço!

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  5. quero conhecer a tia (aquelas...)

    rafa ce tem várias mães né?
    carentinho lindo da lau

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